A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que permite responsabilizar redes sociais por postagens feitas por terceiros reacendeu o debate sobre como funcionam os algoritmos das plataformas digitais.
Esses sistemas determinam o que aparece no feed de cada usuário com base em padrões de comportamento digital, mas fazem isso sem transparência ou controle público. Embora impulsionem os lucros das plataformas, também promovem a circulação de desinformação e dificultam o acesso a conteúdos confiáveis.
Rose Marie Santini, professora da Escola de Comunicação da UFRJ e diretora do NetLab, alerta que a falta de transparência nos sistemas de recomendação facilita a propagação em larga escala de informações falsas. Ela destaca que os algoritmos agrupam usuários por semelhanças em seus padrões de consumo e, a partir disso, escolhem conteúdos para exibir buscando maximizar o engajamento do público. Essa curadoria algorítmica não prioriza a relevância jornalística nem a diversidade de fontes, mas sim o potencial de retenção e interação dos usuários.
Esse modelo beneficia conteúdos sensacionalistas, fortalece bolhas de opinião e amplia a visibilidade de publicações de baixa qualidade. Além disso, concentra o controle sobre distribuição, métricas e remuneração nas mãos das plataformas, que permanecem opacas quanto aos critérios usados, dificultando o controle público e o debate sobre regulação.
Curadoria invisível e controle de conteúdo
Rose Marie Santini explica que os sistemas de recomendação não refletem gostos individuais, mas sim os gostos coletivos do grupo ao qual o usuário está associado. Esse modelo, originado nos sistemas de recomendação musical, revolucionou a forma como os conteúdos chegam ao público.
Segundo ela, esse método concentra poder nas plataformas digitais e prejudica criadores de conteúdo, que não têm acesso aos critérios utilizados nem informações sobre o alcance de suas produções. As plataformas definem métricas e padrões de consumo, forçando artistas e produtores a fornecer conteúdos gratuitamente em troca de visibilidade, enquanto concentram dados, distribuição e publicidade.
Desinformação e necessidade de regulação
- A falta de transparência facilita a disseminação massiva de desinformação.
- Interesses políticos, econômicos e criminosos exploram o amplo alcance e a ausência de fiscalização nas redes.
- Grupos organizados manipulam o debate público, especialmente durante períodos eleitorais, por meio de propagandas computacionais.
- Bots e perfis falsos criam engajamento falso, distorcendo o que é percebido como popular ou relevante e dificultando o acesso a informações verdadeiras.
Rose Marie Santini enfatiza que combater esse quadro exige ações culturais, políticas e econômicas. É fundamental regular as plataformas, promover transparência nos algoritmos e responsabilizar quem lucra com a desinformação.