Diferentemente da postura do Planalto, novo titular da Saúde afirma que, para reduzir o número de mortes por covid, são necessárias políticas de distanciamento social e avanço no potencial de atendimento nos hospitais. De saída, Pazuello também prega “novos hábitos”
Apesar de ter enfatizado que pretende seguir a cartilha do governo no combate à pandemia, o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pregou o distanciamento social e o uso de máscara — medidas de segurança ignoradas pelo Planalto —, mas evitou citar termos como lockdown, constantemente criticado pelo presidente Jair Bolsonaro. “Esses óbitos nós conseguiremos reduzir com dois pontos principais”, afirmou, ontem, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro. “Com políticas de distanciamento social que permitam diminuir a circulação do vírus e com a melhora na capacidade assistencial de nossos serviços hospitalares.”
Queiroga destacou que terá autonomia para comandar a pasta no enfrentamento da crise sanitária. “A política pública colocada no governo, não só em relação ao Ministério da Saúde, mas em relação aos outros ministros, é a política pública do governo federal, do presidente da República, que foi eleito pela maioria do povo brasileiro”, destacou. “É óbvio que o presidente confere autonomia aos seus ministros, mas ele também cobra resultados. Ele nos deu autonomia, e nós faremos os ajustes que couberem no momento adequado.” O cardiologista também elogiou o antecessor. “O ministro Pazuello (Eduardo Pazuello) tem feito um trabalho que a sociedade brasileira reconhece, e nós vamos trabalhar mais para que tenhamos os resultados que todos desejamos”, emendou.
Por sinal, a chegada de Queiroga ao ministério — mesmo que ainda não tenha tomado posse — fez Pazuello mudar de postura. Depois que o novo ministro ressaltou a importância das medidas de segurança contra a covid-19 para frear a contaminação, o general fez o mesmo. “O coronavírus veio para ficar. Nós vamos controlar a pandemia com vacinação e novos hábitos. Nós mudaremos hábitos. Hábitos de usar máscaras, lavar as mãos, manter um grau de afastamento social, novos hábitos de horários”, frisou, também na cerimônia no Rio, num alinhamento de discurso com o sucessor. “É necessário compreender isso. O doutor Queiroga diz que começa na conscientização de cada um e não apenas na imposição do gestor. Só juntos vamos poder evitar um grande número de óbitos e continuar a vida na maior normalidade possível.”
Pazuello repetiu que Queiroga deve apenas dar continuidade ao seu trabalho, podendo expandi-lo com sua “capacidade técnica óbvia” como médico. E afirmou que o substituto “reza na mesma cartilha”. “Eu vou entregar a ele o ministério estruturado, organizado, funcionando e com tudo pronto. Ele, como médico cardiologista, com todo o seu conhecimento técnico, vai poder navegar por essa ferramenta em prol da saúde do Brasil”, enfatizou.
Diálogo
Outro ponto enfatizado por Queiroga para o Brasil superar a tragédia provocada pelo novo coronavírus é o restabelecimento das relações entre o governo e os estados e municípios, que estão desgastadas e tensas. “Nada será resolvido na base do cacete. Vamos resolver na base do diálogo”, frisou ele, em entrevista à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. “As relações da sociedade estão tensas, pelo momento que atravessamos, e as relações governamentais refletem isso.”
Segundo Queiroga, o objetivo é articular uma espécie de movimento de união nacional. Para tornar essa meta factível, afirmou que já telefonou para secretários estaduais de saúde e para o líder do fórum de governadores, Wellington Dias (PT), gestor do Piauí. De acordo com o novo ministro, é preciso buscar uma trégua para que essa articulação funcione. “O presidente quer que eu dialogue em nome da saúde no Brasil”, enfatizou.