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sexta-feira, 21/11/2025




Quando o asfalto, a terra e a sombra causam exclusão

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Em Brasília

Por Ana Mendonça, Anna Carolina Xavier e Davi Moisés

Luiza Aranha, estudante de 21 anos, mora na Asa Sul. Ela gosta de olhar pela janela e ver muitas árvores grandes e verdes que tornam seu caminho para a faculdade e academia mais fresco e agradável devido à sombra.

Francisca das Chagas Alves, doméstica de 50 anos que vive no Sol Nascente, vê uma realidade diferente: sua paisagem é feita quase toda de casas e concreto, com poucas árvores.

Essa diferença está ligada ao conceito de racismo ambiental, criado por Benjamin Franklin Chavis Jr. na década de 1980, que mostra como populações negras e periféricas enfrentam mais riscos ambientais, como enchentes e poluição, e têm menos acesso a benefícios como áreas verdes e boa infraestrutura.

O antropólogo e urbanista Paíque Santarém explica que essa situação não aconteceu por acaso, mas é parte da história estrutural de Brasília, onde trabalhadores negros e pobres que ajudaram a construir o Plano Piloto foram depois expulsos para as cidades satélites, que receberam menos investimento e infraestrutura.

Desigualdade visível

Dados da Novacap revelam que entre 2023 e 2024, foram plantadas 7.841 árvores no Plano Piloto, enquanto no Sol Nascente foram apenas 490. A diferença mostra a injustiça climática existente: a Asa Sul, onde a maioria da população é branca, tem mais árvores e conforto, enquanto áreas como o Sol Nascente, com maior população negra, sofrem mais com o calor e enchentes.

Luiza acredita que as árvores ajudam a amenizar o calor; para Francisca, enfrentar altas temperaturas e alagamentos é algo constante e difícil.

Políticas e veto

Essa desigualdade poderia ser corrigida por políticas públicas. No entanto, o governador do Distrito Federal vetou dois importantes projetos de lei que visavam combater o racismo ambiental e aumentar a arborização em áreas periféricas.

Deputados do PSOL criticam o veto, afirmando que o governo escolhe quem merece ter qualidade de vida e quem não merece, priorizando as áreas mais ricas e brancas.

O governo, por sua vez, justifica que a diferença no plantio de árvores é resultado de fatores técnicos e planejamento urbano, negando relação com racismo ambiental.

Defesa da justiça racial

Max Maciel, um dos autores dos projetos vetados, defende que para haver justiça ambiental no DF, é fundamental que se inclua a análise do impacto racial nas políticas públicas, garantindo que as populações mais vulneráveis também tenham acesso a uma melhor infraestrutura e qualidade de vida.




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