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terça-feira, 24/06/2025




Qatar conquista papel de mediador entre Israel e Irã para reduzir isolamento de Teerã

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RENAN MARRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Qatar, um pequeno Estado no Golfo Pérsico que busca fortalecer sua influência regional, interceptou mísseis iranianos lançados contra a base aérea de Al-Udeid, a maior instalação militar dos Estados Unidos no Oriente Médio. No entanto, Doha não é inimiga geopolítica de Teerã; ao contrário, mantém boas relações diplomáticas e ampliou recentemente o diálogo bilateral.

Após o abate dos foguetes, as autoridades do Qatar declararam que o ato violou sua soberania e espaço aéreo, ressaltando o direito de reagir a essa agressão, indicando apoio indireto aos EUA do presidente Donald Trump. Apesar disso, o país não costuma se envolver em conflitos armados e tem atuado como um possível mediador na atual crise. No sábado, por exemplo, Doha criticou os bombardeios americanos em instalações nucleares iranianas.

Poucas horas depois do ataque coordenado do Irã, reconhecido por seu aviso prévio, Trump anunciou uma trégua entre Israel e Irã após quase duas semanas de confrontos aéreos, destacando o Qatar como intermediário nas negociações.

Doha mantém estreitos vínculos com países da Otan, hospedando bases militares dos EUA e da Turquia, enquanto mantém diálogo com o Irã, rival americano, e até com grupos como a Irmandade Muçulmana e o Talibã, que possui representação local.

A diversidade da estratégia externa qatari visa garantir sua segurança e evitar isolamento político, dado seu pequeno território de 11,5 mil km² — aproximadamente metade da área de Sergipe — e uma população inferior a 3 milhões, similar ao Estado do Mato Grosso do Sul. Geograficamente, o país é limitado por sua única fronteira terrestre com a Arábia Saudita.

Das perspectivas iranianas, o Qatar oferece uma via para ampliar o diálogo com o mundo árabe sunita, majoritariamente hostil ao regime iraniano, de vertente xiita. Teerã enxerga em Doha uma ponte capaz de diminuir seu isolamento político e econômico, agravado pelas sanções internacionais, especialmente lideradas pelos Estados Unidos e países do Golfo.

Essa proximidade não significa alinhamento absoluto. O Qatar mantém uma política externa autônoma, dialogando simultaneamente com o Irã e abrigando a maior base militar dos EUA na região. Além disso, promove conversações com grupos diversos, como Talibã, Hamas e autoridades israelenses, consolidando seu papel de mediador regional.

Recentemente, Doha e Teerã intensificaram o diálogo após ataques israelenses a instalações nucleares iranianas. Menos de 24 horas após o episódio, representantes dos dois países reuniram-se no Qatar para buscar formas de fortalecer as relações bilaterais.

No contexto geopolítico do Oriente Médio, o Qatar busca se firmar como potência diplomática e energética, mesmo sem o peso militar ou populacional de vizinhos como Arábia Saudita e Irã. Do outro lado, Teerã se posiciona como um bastião de resistência contra as potências ocidentais e contra a influência saudita, apoiando grupos extremistas em países como Síria, Líbano, Iraque e Iêmen.

Portanto, as relações entre Irã e Qatar baseiam-se no pragmatismo, não em afinidades ideológicas.

Apesar disso, Doha enfrenta tensões na região. Em 2017, liderados pela Arábia Saudita, os países da Liga Árabe romperam relações diplomáticas e impuseram um bloqueio aéreo ao Qatar acusando-o de apoiar o regime iraniano e o terrorismo. As sanções foram suspensas antes da Copa do Mundo de 2018, e as nações restabeleceram relações em 2021.




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