O tratado nuclear entre Estados Unidos e Rússia, conhecido como New START, voltou a entrar em discussão após o presidente russo, Vladimir Putin, solicitar sua extensão. O silêncio do líder norte-americano, Donald Trump, gera dúvidas e pode indicar condições para garantir um cessar-fogo duradouro na Ucrânia, com o republicano influenciando diretamente em Kiev.
No início da semana passada, Putin propôs a Trump estender o New START, o único acordo de controle de armas nucleares ainda vigente entre os dois países. O tratado limita o número de ogivas nucleares estratégicas e mísseis de longo alcance, com validade até fevereiro de 2025.
O líder russo sugeriu ampliar o acordo por mais um ano, até fevereiro de 2026, afirmando que a Rússia está disposta a manter os limites centrais durante esse período. “A Rússia está preparada para continuar a respeitar os limites centrais previstos no tratado New START por um ano após 5 de fevereiro de 2026. Depois disso, com base na análise da situação, decidiremos sobre a continuidade ou não dessas restrições voluntárias”, declarou.
A proposta surge em meio à deterioração das relações entre Moscou e Washington, intensificada pela guerra na Ucrânia que já dura mais de três anos, e pela suspensão unilateral do acordo por Putin em fevereiro de 2023. Apesar de tentativas de diálogo, como o encontro entre Trump e Putin no Alasca em agosto, negociações formais ainda não foram iniciadas.
O presidente russo destacou que a extensão será possível somente se os EUA “não adotarem medidas que comprometam ou violem o equilíbrio atual das capacidades de dissuasão”, ressaltando que a iniciativa tem o objetivo de contribuir para a não proliferação nuclear global e incentivar o diálogo sobre um futuro tratado.
Segundo o especialista em Direito Internacional Pablo Sukiennik, a reação dos EUA será crucial. “Não é possível ter certeza, mas se Trump entender que este é um tema importante para Putin, certamente vai pressioná-lo para buscar o fim do conflito. Ele deve usar essa questão como condição para a prorrogação, baseado em seu estilo de negociação”, explicou.
Contexto histórico
Assinado em 2010 entre EUA e Rússia, o New START limita o número de ogivas nucleares estratégicas a 1.550 por país, restringe mísseis e bombardeiros e estabelece inspeções mútuas. O tratado foi suspenso unilateralmente pela Rússia em 2023 e expira em 2026, sem substituto definido.
A guerra na Ucrânia reacendeu temores globais sobre segurança nuclear, incluindo questionamentos da própria Ucrânia acerca da renúncia de seu arsenal nuclear em 1994, quando recebeu garantias sob o Memorando de Budapeste.
Moscou passou a propor que futuros acordos de controle nuclear incluam outras potências, como China, França e Reino Unido, argumentando que isso é necessário diante da “nova ordem multipolar” e do crescimento de arsenais fora do eixo tradicional da Guerra Fria.
Analistas, porém, veem essa proposta como uma maneira de adiar a responsabilidade direta de Moscou e Washington, que ainda detêm mais de 90% das ogivas nucleares globais.
O debate provocou alertas no Ocidente. Uma Ucrânia nuclear teria sérias implicações para a segurança global. Zelensky afirmou que a falta de garantias reais pode levar Kiev a reconsiderar sua posição, mesmo que o país não tenha tecnologia nem condições imediatas para produzir armas nucleares.