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quarta-feira, 30/07/2025

PT deve escolher presidente conciliador enquanto partido adota discurso mais à esquerda

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Cátia Seabra e Caio Spechoto

Brasília, DF (FolhaPress) – O ex-prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro Edinho Silva, 60, deve ser escolhido presidente do PT neste domingo (6) após um pleito marcado por tensões internas e forte participação do presidente Lula.

Com uma fala conciliatória e voltada para o diálogo com grupos políticos fora da esquerda, Edinho assumirá a liderança do partido num momento em que membros do governo Lula, do PT e aliados seguem uma direção contrária, atacando líderes do centrão.

Os petistas veem Edinho como um canal para reaproximar o partido dos aliados, destacando sua boa relação com dirigentes de siglas de centro-direita, como os presidentes do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e do PSD, Gilberto Kassab.

Espera-se que Edinho vença no primeiro turno. Também concorrem à presidência do partido o deputado federal Rui Falcão (SP) e os dirigentes petistas Romênio Pereira e Valter Pomar.

Segundo o PT, cerca de 3 milhões de filiados estão aptos a votar. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informa que há pouco menos de 1,7 milhão de eleitores registrados, mas o partido defende que o cadastro da Justiça está desatualizado e incompleto.

O atual presidente do partido é o senador Humberto Costa (PE), que assumiu temporariamente após a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) deixar o cargo em fevereiro para assumir a pasta das Relações Institucionais.

Apesar de Edinho ser o favorito, o discurso predominante no PT está mais alinhado com os setores mais à esquerda da sigla.

Nessas últimas semanas, o partido unificou sua posição em torno da luta dos pobres contra os ricos e do combate aberto ao bolsonarismo e ao centrão. O próprio presidente Lula orientou seus aliados a adotarem esse tom, conforme mostrou a Folha de S.Paulo.

O movimento do presidente foi motivado pelas sucessivas derrotas do governo no Congresso, como o bloqueio do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A cúpula do Executivo avalia que forças políticas de centro e direita anteciparam a eleição de 2026, atuando para enfraquecer o governo e diminuir as chances de reeleição de Lula.

Assim, os petistas acreditam que o presidente não teve outra escolha a não ser disputar diretamente os eleitores e incentivar aliados a difundir ideias que unam seus seguidores mais fiéis.

Na prática, o discurso moderado de Edinho foi ofuscado pela tensão entre petistas e as forças predominantes do Congresso.

Edinho Silva disse não ver incoerência. “O governo tem uma posição que muitas vezes diverge da dos principais líderes do Congresso, mas isso não impede o diálogo nem a busca por pontos comuns. O presidente Lula não abre mão de debater com a sociedade”, declarou à Folha de S.Paulo.

Lula é a liderança incontestável do PT, mas enfrentou dificuldades para unir seu grupo político – a corrente CNB (Construindo um Novo Brasil) – em torno do nome do ex-prefeito.

O presidente interveio pessoalmente, participando de reuniões tensas com a ala da CNB que resistia à perda de espaço. Em março, deixou contrariado um encontro na casa de Gleisi Hoffmann após desafiar os presentes a apresentarem um nome melhor que o de Edinho.

Essa reunião, convocada por uma ala petista para tentar persuadir Lula a desistir da candidatura de Edinho, teve efeito contrário, fortalecendo o candidato apoiado pelo presidente.

Na tentativa de enfraquecer grupos contrários, Lula convidou a tesoureira do partido, Gleide Andrade, para acompanhá-lo em viagem ao Vaticano pelo funeral do papa Francisco, sondando-a sobre a possibilidade de renunciar à reeleição no cargo, o que não ocorreu.

Em seguida, negociou com o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, que havia lançado candidatura, mas desistiu após acordos a favor de seu filho no Rio de Janeiro.

Com esse consenso selado em meados de maio, o favoritismo de Edinho se consolidou.

As disputas internas da CNB se espalharam pelo país, refletidas nas batalhas pelos comandos estaduais. Um dos primeiros desafios do provável presidente será amenizar essas divisões internas, visando fortalecer a candidatura de reeleição de Lula em 2026.

O cargo de presidente do PT colocará Edinho Silva em papel central na eleição presidencial. Historicamente, quem lidera o partido também coordena a campanha de reeleição.

A provável vitória de Edinho pode ainda trazer maior tranquilidade ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alinhado ao PT na defesa da taxação dos mais ricos, embora suas propostas econômicas enfrentem resistência interna.

Edinho Silva costuma concordar com as propostas do ministro, que o apoia desde o início da candidatura.

Lula demonstrava preferência por Edinho Silva desde o ano anterior, quando o ex-prefeito integrou a coordenação de comunicação da campanha presidencial em 2022.

A relação entre ambos é antiga. As vitórias de Edinho nas eleições para prefeito de Araraquara (2000, 2004, 2016 e 2020) chamaram a atenção do presidente, já que o interior paulista é uma região difícil para o PT.

Edinho Silva também foi vereador, deputado estadual, ministro da Secretaria de Comunicação Social no governo de Dilma Rousseff e presidiu o diretório estadual do PT em São Paulo.

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