JULIANA ARREGUY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Enquanto o governo federal enfrenta conflitos com o Congresso Nacional, movimentos sociais e o PT, partido do presidente Lula, organizam uma manifestação para esta quinta-feira (10), em São Paulo, para cobrar a taxação dos mais ricos e o fim da escala 6×1 de trabalho – temas que encontram resistência em parte do Legislativo.
Os petistas estão divididos entre a vontade de pressionar e o receio de que confrontos possam prejudicar a relação já delicada entre Lula e o Legislativo.
A manifestação focará o Congresso e o centrão de maneira ampla, evitando atacar diretamente líderes políticos menos conhecidos pelo público, como o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Organizadores acreditam que chamamentos gerais têm mais chance de atrair os manifestantes, que podem citar parlamentares específicos durante os discursos.
O protesto acontecerá na avenida Paulista, em frente ao Masp, devido à preparação rápida. A reação é decorrente da recente derrubada pelo Congresso dos decretos do governo que alteravam as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Na última semana, militantes da Frente Povo Sem Medo, incluindo o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), fizeram uma manifestação dentro da sede do Itaú BBA, em São Paulo, pedindo a taxação dos super-ricos. Na ocasião, divulgaram o ato de quinta-feira pela taxação de bancos, apostas e bilionários, apelidada pelo governo de “BBB”.
Esse ato anterior gerou críticas de grupos bolsonaristas.
Parlamentares do centrão, conhecidos por sua atuação fisiológica de centro-direita, resistem à proposta do governo de criar um imposto mínimo para quem ganha acima de R$ 50 mil por mês. A ideia é compensar a perda de arrecadação ao isentar os que ganham até R$ 5 mil do Imposto de Renda, compromisso de campanha de Lula em 2022.
Por isso, aliados de Lula consideram importante pressão popular para aprovar essas mudanças.
“Vamos encher a avenida Paulista para exigir que os pobres sejam incluídos no Orçamento e os ricos paguem imposto”, disse à Folha a coordenadora nacional do MTST e da Frente Povo Sem Medo, Ana Paula Perles.
Perles destacou que o protesto, embora organizado por movimentos sociais, não é exclusivo da esquerda. “O povo percebe que o Congresso protege os privilégios de 1% e faz os trabalhadores pagarem a conta”, afirmou.
A manifestação está sendo convocada nas redes pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), ex-líder do MTST, que critica duramente Hugo Motta e outros parlamentares pela postura frente às pautas econômicas do governo.
O PT em São Paulo, também organizador do ato, está dividido sobre o tom a ser adotado. Alguns preferem críticas genéricas ao Congresso para evitar o desgaste entre Lula e outras lideranças. Outros querem que os movimentos deem voz firme aos ataques contra os opositores das propostas do governo.
O ato está marcado para começar às 18h, horário que permite a participação de trabalhadores após o expediente. A organização não descarta novos protestos em outras cidades se mobilizar público suficiente nesta quinta.