26.5 C
Brasília
domingo, 17/08/2025

Protecionismo no Brasil trava crescimento e renda

Brasília
chuva fraca
26.5 ° C
28.7 °
26.5 °
30 %
4.6kmh
0 %
dom
28 °
seg
29 °
ter
29 °
qua
30 °
qui
30 °

Em Brasília

FERNANDO CANZIAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O Brasil adota há muitos anos barreiras que impedem seu progresso e a melhoria da vida das pessoas, sendo uma das economias mais fechadas do planeta.

Fora das principais redes produtivas globais e com participação menor que 2% no comércio mundial, esse isolamento limita o crescimento, a produtividade e a renda.

Desde os anos 1980, o país vive em uma situação de crescimento lento. Entre 1950 e 1980, o PIB crescia cerca de 7,5% ao ano; desde 1981, essa taxa caiu para aproximadamente 2,5%. O principal motivo é a baixa produtividade.

A produtividade por hora trabalhada cresceu em média apenas 0,5% ao ano entre 1981 e 2023. Enquanto a agricultura avançou cerca de 6% ao ano, a indústria teve queda média de 0,3% ao ano, especialmente no setor de transformação, com queda de 0,9% ao ano.

O setor de serviços, que emprega 70% das horas trabalhadas, praticamente não teve crescimento. Sem um avanço na produtividade, a qualidade de vida da população brasileira não vai melhorar, alertam especialistas.

No setor de máquinas e equipamentos, onde as importações poderiam aumentar a produtividade, o Brasil possui as tarifas mais altas do mundo, chegando até 11,5%.

Fernando Veloso, autor de estudo do Centro de Debates de Políticas Públicas, afirma que isso impede a compra de máquinas modernas e a melhoria da eficiência, dificultando também o aumento das exportações.

O estudo defende que, embora a economia fechada tenha ajudado no passado a industrialização do país, hoje ela dificulta a produtividade e o desenvolvimento.

Isso faz com que o Brasil fique cada vez mais distante dos níveis dos Estados Unidos. Nos anos 1980, um trabalhador brasileiro tinha 46% da produtividade de um americano; hoje, isso caiu para 25,6%, mesmo nível de 70 anos atrás, segundo dados do Conference Board. Ou seja, um brasileiro demora uma hora para fazer o que um americano produz em 15 minutos.

Segundo os autores, o aumento das tarifas nos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump evidenciou a necessidade do Brasil diversificar e expandir seu comércio exterior.

Apesar de uma abertura breve nos anos 1990, iniciada no governo de Fernando Collor, com redução das tarifas de 30,5% para 12,8%, o país voltou a apostar na substituição de importações e se afastou da liberalização comercial global.

Veloso afirma que enquanto outros países emergentes reduziram tarifas e entraram nas cadeias produtivas globais, o Brasil permaneceu parado, ficando para trás.

Hoje, as tarifas médias sobre produtos industriais no Brasil são cerca do dobro das mexicanas e quase três vezes maiores que as da União Europeia; o país tem a 13ª tarifa mais alta entre 191 economias, atrás apenas de alguns países africanos e ilhas caribenhas.

Além disso, o Brasil usa muitas barreiras não tarifárias, presentes em 86% do valor das importações, contra uma média de 72% em 75 países analisados. Essas barreiras, como regras técnicas e procedimentos alfandegários complexos, podem aumentar os preços de produtos importados até 2,4 vezes, mais do que as próprias tarifas.

Renato da Fonseca chama o sistema tarifário brasileiro de uma ‘colcha de retalhos’. Sandra Rios, diretora do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, observa que o problema da competitividade gerado pela proteção elevada foi ‘resolvido’ com vários regimes especiais de importação, chamados ‘puxadinhos’.

Esses regimes incluem medidas setoriais, ex-tarifários (permissão burocrática para importar máquinas sem similar nacional), a Zona Franca de Manaus e o drawback (importar com tarifa reduzida para exportar depois), gerando um sistema fragmentado.

O protecionismo cria barreiras à entrada de tecnologia de ponta e reduz a competitividade. Por exemplo, o custo do iPhone no Brasil é o segundo maior entre 37 países, só ficando atrás da Turquia.

Essa situação afeta muitos produtos, como veículos elétricos e painéis solares, cujas tarifas foram elevadas, contrariando metas de sustentabilidade.

Sandra Rios ressalta que esses regimes especiais beneficiam empresas grandes que conseguem lidar com a burocracia para obter ex-tarifários e medidas antidumping, enquanto pequenas e médias empresas não têm recursos para isso.

Veloso critica políticas como o Inovar-Auto, que, mesmo contestadas na Organização Mundial do Comércio, não aumentaram investimentos em pesquisa e desenvolvimento nem resolveram os problemas de produtividade da indústria automotiva. Também critica os impostos sobre tecnologia estrangeira, que não geraram novos produtos e reduziram empregos.

Apesar da resistência histórica de empresários beneficiados pela proteção, Sandra Rios diz que há crescente insatisfação dentro do setor industrial, citando conflitos no setor de máquinas e equipamentos e a reclamação da Abiplast sobre medidas antidumping para insumos.

Os autores sugerem uma reforma gradual e arrojada para a política comercial, com objetivo principal de reduzir e simplificar tarifas para uma média de 6% em quatro anos, semelhante a países como África do Sul, Colômbia e México.

Outras ações propostas incluem rever o Mercosul, reduzir impostos sobre importações, celebrar acordos internacionais e inserir o país nas cadeias globais de produção.

Mesmo com possível perda de empregos em setores como automotivo, confecção, móveis e calçados, as estimativas indicam que a reforma gerará mais empregos do que destruirá.

Renato da Fonseca conclui que o Brasil tem muitas tarifas para reduzir e que, se quer ser uma economia de mercado, é preciso aceitar que algumas empresas podem falir devido a alocação inadequada de recursos no passado.

Veja Também