POR CARLIANE GOMES
redacao@grupojbr.com
Esta semana, os restaurantes comunitários do Distrito Federal realizaram uma ação especial para mostrar à população como aproveitar melhor os alimentos. Durante o almoço, das 11h às 14h, as pessoas receberam dicas de como transformar cascas, sementes e talos em pratos saborosos e econômicos. Essa atividade acontece todo mês em todos os restaurantes comunitários do DF, com o objetivo de ensinar hábitos alimentares mais saudáveis, econômicos e sustentáveis. Essa ação faz parte da política de segurança alimentar e nutricional da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF).
De acordo com Carolina Suaid, assistente social da Sedes-DF, a Educação Alimentar e Nutricional (EAN) é uma estratégia constante do Governo do Distrito Federal para garantir o direito à alimentação adequada. “Essa ação é parte da política de segurança alimentar. Assim como o Restaurante Comunitário e o Programa Prato Cheio, ela assegura o direito humano a uma alimentação adequada. O objetivo é incentivar as famílias a mudarem seus hábitos alimentares, levando para casa uma comida de qualidade e mais saudável”, explica.
Durante o evento, foram apresentados painéis explicativos e receitas que usam partes dos alimentos que normalmente são jogadas fora, como cascas, sementes e talos. Nesta vez, o público experimentou um salpicão feito com casca de melancia. “Mostramos que um alimento pode virar várias receitas, evitando desperdício e diminuindo o consumo de alimentos ultraprocessados, que são baratos, mas não saudáveis. Queremos que as famílias aprendam a se alimentar melhor, mesmo com pouco dinheiro”, destaca.
Marcando mais que refeições
O restaurante comunitário é também um lugar para aprender. “Nosso público são pessoas em situação de vulnerabilidade. Aqui, além de receber uma alimentação equilibrada, elas têm acesso a informações importantes para o dia a dia. Isso ajuda a promover saúde, autonomia e consciência alimentar”, afirma.
Sem desperdício
No Restaurante Comunitário do Riacho Fundo II, além da comida, as pessoas aprendiam a valorizar os alimentos por completo, sem desperdício e com sabor. “Incentivamos uma alimentação saudável junto com o cuidado com o planeta. Muitos se surpreendem ao saber que cascas, sementes e talos têm muitos nutrientes. Por exemplo, a casca da banana é rica em potássio”, explica a nutricionista Letícia Beatriz. Ela conta que, embora no começo as pessoas estranhem os ingredientes, logo acabam gostando e incorporando as receitas no dia a dia.
A nutricionista Marina Avelar diz que aproveitar todo o alimento é uma forma de comer mais saudável, economizar e ter uma alimentação variada, ao mesmo tempo que reduz o desperdício. “Quando usamos só a polpa e jogamos fora o resto, perdemos nutrientes e dinheiro. Cascas de frutas e vegetais têm muita fibra, que ajuda o intestino. Dá para aproveitar muito com o que já temos em casa.” Durante a ação, apresentaram várias receitas usando cascas, talos e sementes. Ela cita opções como suco de beterraba, chá com casca de abacaxi, bolos com banana verde, abóbora, mandioca, chips com cascas de frutas, geleias e omeletes com vegetais e frutas.
Para Marina, o segredo é experimentar novas combinações e modos de preparar os alimentos. “Às vezes a pessoa tem preconceito, mas na receita nem percebe o sabor. Dá para acrescentar esses ingredientes em pratos que já gosta, como pizza ou bolo, variando a alimentação e consumindo mais vitaminas sem gastar muito.”
Comida variada
A cabeleireira Carmelita Rodrigues, 57 anos, acha a iniciativa importante para quem não conhece as partes dos alimentos que normalmente jogam fora. “Eu acho ótimo. Tem muita gente que não sabe para que serve tudo isso, é muito bom ensinar sempre”, comenta. Ela já usa algumas dessas receitas em casa, usando casca de melancia, semente de abóbora e beterraba. Seu prato favorito é purê de abóbora, e também gosta do refogado com casca de melancia. “Corto a casca, tiro a parte vermelha, deixo só a branca e refogo como chuchu. Fica muito gostoso”, conta.
Apesar da rotina corrida, Carmelita tenta se alimentar bem sempre que pode e quer continuar fazendo as receitas indicadas. “Às vezes, quando tenho tempo, faço uma comida mais saudável. Vou colocar em prática as dicas que aprendi hoje. Achei muito bom.”
A aposentada Ivanilda Garcez, 61 anos, frequenta o restaurante com os netos. Para ela, a campanha de reaproveitamento dos alimentos é essencial para aprender a se alimentar melhor. “Ótimo! A gente entende como ter mais saúde, esse trabalho é muito importante para a comunidade”, diz.
Ivanilda mantém em casa uma alimentação saudável com frutas e verduras e não tem preconceito com o consumo de cascas e sementes. “Tem mais vitamina do que a parte que normalmente se come. Agora entendo melhor, pois não sabia antes.” A neta, Maria, de 10 anos, também aprovou a ação e gostou das receitas. “Achei muito bom. Gosto de banana, mandioca, batata doce e beterraba. Quero fazer em casa”, contou animada.
Francisco Mesquita, 62 anos, técnico em edificações, estava perto da Feira Permanente do Riacho Fundo II e aproveitou para almoçar no restaurante. “Fazia uns 10 anos que não vinha aqui. Aproveitei para experimentar de novo”, disse. Mesmo não sendo vegetariano, evita carne a maior parte do tempo. “Hoje comi bem, sem carne, e a receita com casca de melancia está aprovada, muito boa.” Sobre a campanha, aprovou a ideia: “É muito bom e necessário. Perdemos muita comida à toa. Se der para aproveitar, por que não?”
O Distrito Federal conta com 18 restaurantes comunitários, conforme a Secretaria de Desenvolvimento Social. Eles ficam em várias regiões e oferecem refeições nutritivas a preços populares, com opções a partir de R$ 1.