Igor Dias Delecrode é acusado de criar um software para burlar a biometria no INSS.
Mais uma audiência foi realizada na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, onde o empresário e programador Igor Dias Delecrode optou por não se manifestar. Ele não esclareceu a movimentação financeira de R$ 1,4 bilhão relacionada a empresas de tecnologia da informação.
Durante o depoimento ocorrido na segunda-feira (10), Delecrode permaneceu em silêncio ao ser questionado sobre as vulnerabilidades do sistema previdenciário que permitiram diversas fraudes contra aposentados e pensionistas. Também não comentou sobre o recebimento de R$ 15 milhões em menos de um ano.
Com 28 anos e sócio de empresas de TI, o programador é suspeito de desenvolver um programa que falsificava biometria facial e assinaturas digitais no INSS, dando uma falsa aparência de legalidade aos descontos indevidos.
Delecrode estava amparado por habeas corpus concedido pelo ministro do STF Gilmar Mendes, garantindo o direito de não responder perguntas que pudessem incriminá-lo e de não prestar compromisso de dizer a verdade. Seu advogado explicou que ainda não teve acesso aos autos dos processos, o que justifica o pedido ao tribunal.
No início, o depoente se limitou a dizer que reside em São Paulo, é formado em auditoria financeira, trabalha com prestação de serviços e realiza atividades de tecnologia como hobby.
Ao ser questionado pelo relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), Delecrode respondeu: “Respeitosamente, me manterei em silêncio”. O relator tinha 90 perguntas a serem feitas.
Enriquecimento ilícito
O relator enfatizou que Delecrode envolveu-se em fraudes que movimentaram mais de R$ 1,4 bilhão, agindo com ao menos nove entidades diferentes.
“Ele se tornou multimilionário, movimentando mais de R$ 15 milhões em menos de um ano com ferramentas criadas para extorquir aposentados e pensionistas. Essa impunidade é revoltante e um desrespeito ao povo brasileiro”, declarou Alfredo Gaspar.
Organização criminosa e sistema sofisticado
Delecrode é acusado de liderar uma organização criminosa dividida em pelo menos três núcleos, utilizando um sistema avançado de coleta de dados e autenticação que burlava a biometria facial com cópias de documentos pessoais. O esquema foi descoberto pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Alfredo Gaspar afirmou: “Ele é o cérebro tecnológico da fraude, acumulando R$ 1,4 bilhão. Se o país fosse justo, ele estaria detido. Criou um grupo tecnológico com vários sistemas independentes de verificação de identidade.”
O deputado também apontou que, além do STF, membros da própria CPMI estariam dificultando a convocação de testemunhas, prejudicando as investigações.
“O silêncio do acusado desrespeita o povo brasileiro e evidencia uma Justiça desigual, onde os ricos têm benefícios que o cidadão comum não alcança”, acrescentou Gaspar.
Posicionamentos dos parlamentares
Paulo Pimenta (PT-RS) classificou Delecrode como um “milionário sem trabalho legítimo, responsável por fraudes em assinaturas digitais e biometria”.
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), criticou a concessão do habeas corpus, ressaltando que o Congresso precisa recuperar sua autoridade para limitar os poderes de outras instituições.
O senador Rogério Marinho (PL-RN) mencionou uma “jurisprudência de exceções e falhas no funcionamento dos poderes”, enquanto o senador Izalci Lucas (PL-DF) sugeriu que a CPMI solicite ao ministro André Mendonça do STF a prisão preventiva dos envolvidos.
Prorrogação do prazo para ressarcimento
Paulo Pimenta comunicou no início da sessão que o prazo para pedidos de ressarcimento dos pensionistas prejudicados foi estendido de 14 de novembro de 2025 para 14 de fevereiro de 2026.
Até o momento, mais de 3 milhões de beneficiários receberam restituição que já ultrapassa R$ 2 bilhões.
