No último sábado, o Parque da Cidade Sarah Kubitschek foi tomado por um evento especial: o 1º Encontro da Confraria Bonsai de Brasília. O destaque não foram as grandes árvores do parque, mas sim as pequenas árvores de bonsai, cuidadosamente cultivadas, que encantaram visitantes e amantes da cultura japonesa. O evento reuniu bonsaístas, curiosos e admiradores, transformando o local em um belo jardim cheio de histórias e dedicação.
Mais do que uma simples exposição, o encontro serviu para valorizar e fortalecer a arte do bonsai no Distrito Federal. Todos puderam ver diferentes espécies e estilos de bonsai, além de participar de conversas, demonstrações práticas e oficinas que explicavam a importância da paciência e respeito pelo tempo natural das plantas.
Luciano Maia, fundador da Confraria e da loja Maia Bonsai, contou que o objetivo é ampliar o reconhecimento do bonsai feito em Brasília para todo o país. Ele destaca que existem muitos bonsaístas talentosos na cidade, mas que ainda precisam ser mais conhecidos.
A confraria surgiu durante a pandemia, quando várias pessoas encontraram no cultivo do bonsai um jeito de aliviar o estresse e se conectar com a natureza. Desde então, o grupo vem crescendo e realizando encontros em viveiros, formando parcerias e agora ocupando espaços públicos para mostrar seu trabalho.
Luciano Maia explicou que este foi o primeiro de muitos encontros itinerantes, com a intenção de levar a arte do bonsai para diversos parques e praças do Distrito Federal, incluindo áreas periféricas, tornando essa arte acessível para todos.
De ferreiro a bonsaísta
Alexandre da Silva Filho, conhecido como Alex Facas, é um dos organizadores e participantes do grupo. Com formação em cutelaria artesanal, ele viu no bonsai uma extensão natural do seu ofício por exigir a mesma paciência e precisão. Durante a pandemia, aprendeu sobre bonsai e hoje fabrica ferramentas especiais para o cuidado das plantas.
Alex também é instrutor na escola do grupo, onde ensina desde o cultivo das raízes até o formato da copa, mostrando que essa arte é feita sem pressa, valorizando o tempo e o silêncio.
Inspiração do cinema
Luciano Maia, músico e servidor público, começou a interessar-se pelo bonsai ao assistir ao filme Karatê Kid, onde um personagem cuidava de uma árvore em miniatura. Sem muito acesso à informação na época, ele aprendeu observando revistas e outras pessoas na cidade. Com a internet, esse aprendizado se intensificou.
Durante a pandemia, Luciano criou o perfil @maiabonsai no Instagram para vender plantas com preços acessíveis, facilitando o acesso à arte. Hoje, ele mantém uma loja que funciona como viveiro e escola.
Para ele, cada bonsai é único e carrega a marca da pessoa que o cultiva, sendo comparado a uma obra de arte viva.
O bonsai como terapia
Marçal Freire, de 41 anos, analista de sistemas e morador de Vicente Pires, encontrou no bonsai uma forma de relaxar e se reinventar. Começou a cuidar da planta há sete anos, inspirado também pelo filme Karatê Kid, e considera essa atividade um momento de paz e concentração.
Marçal é participante ativo da confraria e vê no projeto uma maneira de democratizar e incluir novos públicos na cultura do bonsai, ressaltando que a arte é acessível a todos que tenham interesse e paciência.
Tradição no cerrado
A arte do bonsai em Brasília tem raízes profundas, sendo divulgada desde os anos 1990 por pioneiros que organizaram cursos e encontros. Na década seguinte, outros nomes ajudaram a fazer da cidade um polo nacional nessa prática. Com a pandemia, a comunidade se fortaleceu ainda mais, iniciando uma nova fase com eventos públicos e uma escola dedicada.
Hoje, a arte do bonsai em Brasília combina a tradição japonesa com a flora local, utilizando espécies do cerrado como ipês, jatobás e jacarandás, criando árvores em miniatura únicas e cheias de significado.
Luciano Maia resume a experiência: “O bonsai nos ensina equilíbrio, paciência e humildade. Não é só uma planta, é uma lição de vida transformada em arte.”