Roberto Campos Neto afirma que o mecanismo aumentou a bancarização. Presidente afirmou que queda nos lucros fez instituições financeiras assinaram carta democrática
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira que ‘não é verdade’ que os bancos perderam dinheiro com o Pix e que a autoridade monetária deve publicar um estudo nesse sentido.
Assim, ele contrariou o presidente Jair Bolsonaro e ministros do governo, que afirmaram que a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) assinou a carta democrática da Fiesp em defesa da democracia e do sistema eleitoral por causa de supostos prejuízos sofridos por instituições financeiras com o sistema de pagamentos e transferências financeiras gratuitos criado pelo BC em 2020.
— Quero já dizer que não é verdade que os bancos perdem dinheiro com Pix, inclusive a gente deve em algum momento soltar algum tipo de estudo mostrando isso. Você tem uma perda de receita em transferência, mas por outro lado novas contas são abertas, novos modelos de negócio são gerados, você retira dinheiro de circulação que é um custo enorme para o banco, você aumenta a transação, o transacional aumenta — disse em evento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban)
No dia 28 de julho, o presidente ironizou a carta democrática, sendo contrariado agora pelo presidente do BC:
— Os banqueiros estão patrocinando (a carta pela democracia)… é o Pix que eu dei uma paulada neles
Os bancos registraram lucro líquido de R$ 132 bilhões em 2021, 49% a mais do que em 2020 e 10% superior a 2019.
Como apontou a coluna de Alvaro Gribel, o início do desenvolvimento do Pix foi ainda durante o governo Temer, quando Ilan Goldfajn era presidente do BC. O sistema foi lançado em novembro de 2020.
Além do presidente, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, publicou no fim de julho uma série de postagens em uma rede social conectando a assinatura da carta por banqueiros com a suposta perda de R$ 40 bilhões com o Pix, como mostrou o colunista Lauro Jardim.
Segundo Campos Neto, na visão do BC a questão nunca é de quem perde ou quem ganha, mas o objetivo é que os bancos talvez sejam um pedaço menor de uma torta maior.
— É isso que a gente está vendo no sistema financeiro. A gente quer bancarizar, a gente quer competição com inclusão. Não é sobre estar ganhando ou perdendo, todo mundo está ganhando.
O presidente do BC também disse que o Pix foi construído a partir de um trabalho em conjunto com o sistema financeiro.
— Alguns outros banqueiros centrais perguntam: “Como você fez o Pix? Eu nunca ia conseguir fazer, os bancos não iam colaborar”. Eu disse, pois é, mas no Brasil eles colaboraram e por isso a gente tem o Pix. É importante dizer que foi uma colaboração — afirmou.
Internacionalização
Consta na agenda de inovação do Banco Central, a internacionalização do Pix. Campos Neto vem falando disso há alguns meses e afirmou que tem conversado com o presidente do Banco Central da Colômbia, que quer replicar o sistema no país vizinho.
— Eu tenho falado com o presidente do Banco Central da Colômbia, ele quer fazer um sistema exatamente igual do Pix, ele está vindo aqui. Falou: “você me dá as instruções? A gente vai falar exatamente igual” — relatou.
O presidente do BC disse que “já está internacionalizando mais” e que a América Latina seria uma forma de realizar esse processo de maneira mais rápida.
— Acho que a gente consegue internacionalizar o Pix na América Latina de uma forma relativamente rápida. Acho que vai ajudar. Muito dos bancos brasileiros têm filiais na América Latina, então acho que vai ajudar bastante isso — disse.