Os preços dos alimentos no varejo devem começar a subir novamente no último trimestre deste ano, após quatro meses seguidos de queda.
Essa alta no custo dos alimentos não deve causar um aumento descontrolado na inflação geral de 2025, que tem mostrado sinais de desaceleração. De acordo com o último Boletim Focus do Banco Central, espera-se que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano com alta de 4,72%, um pouco acima do limite da meta, que é 4,50%.
Mesmo com a inflação geral estabilizando, os preços dos alimentos no carrinho do brasileiro, especialmente carnes como bovina e aves, café, além de legumes e frutas, devem aumentar entre outubro e dezembro. Esse período costuma ter mais dinheiro em circulação devido ao pagamento do 13º salário, o que facilita reajustes nos preços.
Nos últimos meses, os preços dos produtos agropecuários no atacado já mostraram sinais de aumento, revertendo a tendência de queda observada anteriormente. Um estudo da consultoria 4Intelligence revelou que entre maio e julho os preços desses produtos sofreram quedas significativas.
Fatores como boas safras agrícolas, a gripe aviária — que aumentou a oferta interna de aves —, o câmbio e políticas tarifárias dos Estados Unidos contribuíram para a queda nos preços dos alimentos. De junho a setembro, o grupo alimentação no domicílio registrou redução de preços, refletindo essa queda no atacado.
Segundo o economista sênior da 4Intelligence, Fabio Romão, essa fase de preços baixos deve acabar no último trimestre. “Não será algo muito ruim, mas o alívio que tínhamos vai desaparecer”, explica.
Em agosto e setembro, os preços dos produtos agropecuários no atacado tiveram alta de 1,53% e 1,89%, respectivamente. Como há um atraso na transferência desses preços para o varejo, a previsão é que os alimentos no domicílio aumentem de preço a partir de outubro. No IPCA de setembro, o setor caiu 0,41%, marcando a quarta queda consecutiva.
Virada
Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos, estima alta nos preços de alimentos em casa de 0,60% em outubro, 0,85% em novembro e 1% em dezembro.
Ela acredita que o câmbio atual não se manterá por muito tempo, pois incertezas econômicas nos Estados Unidos devem se dissipar, valorizando o dólar e contribuindo para a depreciação do real, o que impacta os preços aqui no Brasil.
Marcela ressalta ainda a influência da sazonalidade, quando a inflação de alimentos costuma ser menor nos meses de junho a agosto, mas aumenta no último trimestre.
André Braz, coordenador de preços do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, destaca a importância do câmbio na variação dos preços dos alimentos, que são voláteis. Ele acredita que, apesar da alta, os aumentos devem ser menores que no ano anterior, devido a uma oferta maior de produtos e ausência de eventos climáticos desfavoráveis.
Principais produtos com alta
Para o último trimestre do ano, Fabio Romão projeta um aumento de 3,22% nos preços dos alimentos em casa, um dos maiores dos últimos cinco anos e acima da média sazonal para o período. Em 2024, a alta foi de 4,26%, influenciada pela seca severa.
Os alimentos que devem subir mais são tubérculos, raízes e legumes (10,80%), hortaliças e verduras (4,64%), frutas (5,44%), carnes (5,38%), aves e ovos (4,96%) e bebidas, incluindo café (4,61%).
Romão destaca a carne bovina, que ainda sofre com os efeitos do ciclo de baixa na pecuária, e o café, com estoques apertados e problemas de oferta para a demanda mundial: “Fim de ano deve ter alta nas proteínas”, afirma.
Para o ano, a projeção é de que a inflação dos alimentos fique em 5%, com o IPCA total em 4,85%. Desde 2020, a alta nos preços dos alimentos tem sido maior que a inflação geral, o que afeta mais as famílias de baixa renda.
Entre 2020 e 2024, os custos com alimentação em casa subiram 55,8%, enquanto a inflação total avançou 33,4%.
Romão acredita que o impacto poderia ser pior se não tivesse havido a queda nos preços dos alimentos nos meses anteriores. Essa desaceleração e a estabilidade cambial ajudaram a reduzir as projeções do IPCA para este ano.
Ele também comenta: “Recentemente, as projeções eram de IPCA em 5% ou mais, mas hoje a maioria espera menos de 5%”.
André Braz concorda e diz que a alimentação surpreendeu positivamente em 2025, pois sem a desaceleração dos preços nesse setor a inflação geral não estaria diminuindo.
Promoções para atrair consumidores
Mesmo com a alta esperada nos preços, os supermercados terão que usar promoções para manter as vendas.
Fontes indicam aumentos previstos de 6% no preço da carne bovina para supermercados em outubro e novembro. Produtos sazonais como panetones podem ter reajustes de até 12% e o café forte até 15%.
Um executivo do setor disse que até julho a empresa estava alcançando suas metas, mas desde agosto a situação mudou, levando a mais ofertas para atrair clientes.
Uma pesquisa da consultoria Neogrid com mil consumidores em lojas de conveniência revelou que 77% procuram mercados com promoções e 60% afirmam que descontos influenciam sua decisão de compra.
Fonte: Estadão Conteúdo