GABRIELA CECCHIN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Os valores do café pagos aos produtores tiveram um aumento expressivo em agosto, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), vinculado à USP (Universidade de São Paulo). O destaque foi para o café robusta (conilon), que subiu 43% no mês até esta segunda-feira (25). O café arábica teve alta de 26,3%.
No fechamento da segunda-feira (25), o Cepea indicou que o preço do café robusta estava em R$ 1.469,43 por saca de 60 kg, enquanto o arábica alcançou R$ 2.287,56.
Especialistas explicam que essa valorização está relacionada a estoques reduzidos, condições climáticas adversas como frio e geadas, além da incerteza provocada pela sobretaxa de 50% nas exportações para os Estados Unidos, imposta pelo presidente Donald Trump.
Para os consumidores, o aumento deve ser sentido dentro de algumas semanas ou meses, segundo André Braz, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Ele destaca que é necessário considerar todo o processo de beneficiamento, torrefação, industrialização e distribuição do café. “Normalmente, o aumento chega ao consumidor de maneira gradual, não imediata”, explica.
Além disso, as tarifas impostas por Trump poderiam, teoricamente, equilibrar o preço final ao diminuir exportações e deixar mais café no mercado interno. Porém, a quebra da safra e os baixos estoques diminuem essa compensação. Na prática, o alívio será pequeno diante dos custos já crescentes.
Em julho, o preço do café moído ao consumidor teve uma leve queda de 0,36%, após 18 meses consecutivos de alta, segundo o IPCA-15 (índice de inflação medido pelo IBGE). Até meados de agosto, o produto caiu 1,47%.
Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), comenta que a produção tem sido menor do que o esperado desde 2020, quando alcançou 63 milhões de sacas. “Por outro lado, o consumo tem crescido nesse período”, ressalta.
Ele destaca que nos próximos 60 dias haverá a florada do café, e que as condições climáticas definirão se a safra de 2026 será melhor ou não.
O Cepea menciona que as tarifas de Trump continuam sendo um tema importante para o setor brasileiro, que responde por cerca de 25% do café importado pelos EUA, especialmente da variedade arábica. Dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) mostram que 16,1% das exportações brasileiras de café em 2024 tiveram os EUA como destino.
Se a sobretaxa permanecer, o Brasil deverá buscar novos mercados, com foco na diversificação, como a China, que recentemente habilitou 183 empresas brasileiras para importar café.
Em 2024, o Brasil exportou cerca de 939 mil sacas para a China, volume 2,5 vezes maior que em 2022, mas 33% menor que em 2023, segundo o Cecafé.
André Braz alerta que, se a oferta limitada continuar, os consumidores sentirão com mais força as altas nos preços nos próximos meses. “Se o clima não melhorar e a produção não aumentar, os preços permanecerão altos tanto para produtores quanto para consumidores. O mercado seguirá instável, e os reajustes aos consumidores podem se intensificar no final do ano”, finaliza.