A partir desta segunda-feira, 7 milhões de portugueses ficarão proibidos de “circularem pela via pública”, a não ser em casos de força maior
Portugal, onde o coronavírus continua a se propagar, impôs nesta segunda-feira (9) o estado de emergência sanitária e a maioria de sua população se prepara para o toque de recolher, uma medida catastrófica, segundo proprietários de lojas, bares e restaurantes.
“Não podemos pensar que vamos enfrentar essa pandemia sem esforços”, reconheceu o primeiro-ministro socialista Antonio Costa, no dia que o balanço superou os 60 mortos.
Por isso, a partir desta segunda-feira, das 23h às 5h locais (20h e 2h em Brasília), 7,1 milhões de portugueses ficarão proibidos de “circularem pela via pública”, a não ser em casos de força maior, ou se trabalharem de madrugada.
Nos próximos dois finais de semana, este toque de recolher começará às 13h locais, tanto no sábado quanto no domingo.
“Estes horários são uma catástrofe para a retomada (econômica)”, disse à AFP Joao Pereira, gerente de um restaurante do centro de Lisboa, que tem cerca de dez mesas.
“Se nos obrigarem a fechar às 13h de sábado, não poderemos nem mesmo servir almoço!”, denunciou este sexagenário.
Desde meados de outubro, o número de novos casos triplicou, ainda que nesta segunda houve 4.000 casos frente aos mais de 6.000 registrados no sábado.
“Restaurantes de luto”
“Se nos obrigam a fechar às 13h de sábado, nem vamos poder servir almoços!”, reclama João Pereira, de 60 anos, por trás do balcão do seu negócio, que duvida se vale a pena abrir o estabelecimento somente no sábado pela manhã.
“Como vamos sobreviver?”, questiona Ernestina Cardoso, uma cozinheira cabo-verdiana de 64 anos que trabalha num restaurante no centro da capital.
“Se fecharem o fim de semana, perdemos muito dinheiro. Não vejo como meu chefe pode fazer para continuar nos pagando nosso salário”, afirma.
Há a mesma preocupação entre os dez funcionários de um pequeno restaurante, que juntos resolveram pendurar um cartaz na rua: “matar uns para salvar outros: restaurantes de luto”.
Risco de superlotação nos hospitais
Os moradores de 121 municípios considerados de “alto risco”, entre os que se encontram em Lisboa, Oporto e seus respectivos subúrbios – que representam cerca de 70% da população do país – devem se ater a um “dever cívico de confinamento em domicílio”, desde a última quarta-feira.
Este segundo confinamento, mais flexível do que o da primavera boreal (outono no Brasil), impõe o trabalho remoto onde for possível, mas as escolas permanecem abertas, assim como restaurantes, estabelecimentos comerciais e espaços culturais.
Com mais de 2.500 pessoas hospitalizadas, e cerca de 400 em cuidados intensivos, os hospitais portugueses vivem com maior pressão nos dias de hoje porque no primeiro semestre o confinamento foi total.
No domingo, o Colégio de Médicos pediu à população para respeitar as medidas em vigor para “evitar a saturação do serviço nacional de saúde”.
O estado de emergência sanitária vai valer ao menos até 23 de novembro, e permite ao governo impor novas restrições com o objetivo de conter a pandemia.
Além do toque de recolher, o governo pode exigir controles de temperatura ou fazer testes nas entradas de determinadas instalações, assim como mobilizar militares ou professores para reforçar as equipes de rastreamento de contatos.