CARLOS VILLELA
FOLHAPRESS
O boletim do Ministério da Saúde mostrou que Porto Alegre ainda enfrenta dificuldades para diminuir os altos índices de HIV e Aids.
A cidade tem a maior taxa de mortes por Aids do país, com 12 casos a cada 100 mil habitantes, quase três vezes mais do que a média nacional, que é 3,4 em 2024. Também tem o maior número de casos de HIV entre gestantes, com 14,9 por 1.000 nascimentos, 4,7 vezes maior que a média do Brasil. Desde 2014, Porto Alegre lidera nesses dois índices.
A cidade também é segunda no número de casos de Aids em crianças menores de 5 anos, com 6,1 por 100 mil habitantes, ficando atrás apenas de Vitória, que tem 10,9. Em detecção geral de Aids, é a terceira capital, com 52,6 casos por 100 mil habitantes, ficando atrás de Belém (57,5) e Manaus (53,4). No caso de HIV, ocupa o sexto lugar, com 42,5 casos por 100 mil habitantes.
Esses números colocam Porto Alegre em primeiro lugar no ranking de 100 cidades com mais de 100 mil habitantes, considerando vários indicadores relacionados à AIDS e HIV dos últimos cinco anos.
O problema também se estende à região metropolitana: Canoas está em quinto lugar, Alvorada em sétimo e Sapucaia do Sul em décimo terceiro.
Os dados indicam que Porto Alegre está enfrentando uma epidemia de HIV. Um estudo de julho feito pelo Hospital Moinhos de Vento e pelo Ministério da Saúde com 8.000 pessoas mostrou que 1,64 a cada 100 pessoas vivem com HIV na região, valor acima do limite considerado controlado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo Daila Renck, coordenadora da Atenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids, Tuberculose e Hepatites Virais (Caist) da Secretaria Municipal de Saúde, isso quer dizer que toda a população está exposta ao vírus, não apenas grupos considerados de risco.
Apesar da situação preocupante, Daila destaca avanços a longo prazo. Porto Alegre começou a oferecer o teste rápido de HIV na atenção básica em 2011. Desde então, embora os números ainda sejam altos, melhoraram e a cidade não tem registrado mais de mil novos casos por ano desde 2019.
A prescrição da PrEP começou a ser feita na atenção básica em 2022, com mais pessoas começando a usar o medicamento. A meta é aumentar os pontos de entrega, que hoje são nove, e oferecer entrega em casa, com consulta virtual, envio de exames e entrega da medicação no domicílio.
Daila explica que muitas pessoas não conseguem sair de seus bairros para fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento, então é importante oferecer esses serviços localmente para garantir que elas fiquem com o vírus indetectável.
Ela destaca que, com a maior oferta e conscientização, o uso da PrEP cresceu entre mulheres cisgênero, e reforça que o uso da PrEP está ligado ao cuidado com a saúde, não a promiscuidade.
Daila recomenda que a prevenção deve ser personalizada e fazer parte de uma estratégia combinada, incluindo o uso de preservativos, testagem, prevenção antes e depois da exposição, redução de danos, identificação de riscos e educação sexual.
Ela ressalta que para prevenir é preciso falar sobre sexualidade, o que ainda é um tabu na sociedade. Sem falar sobre sexualidade, gênero, desejo e sexo, fica difícil fazer prevenção correta.

