SAMUEL FERNANDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um estudo recente, publicado na revista Nature, explicou por que as vacinas contra a gripe não geram uma boa resposta do sistema imune em pessoas idosas, diferente do que acontece com os jovens. Os pesquisadores descobriram que isso acontece por causa de mudanças naturais no corpo causadas pelo envelhecimento. Essas descobertas podem ajudar a criar maneiras de melhorar os efeitos das vacinas para os mais velhos.
A pesquisa envolveu 300 adultos com idades entre 25 e 90 anos, que tiveram suas atividades genéticas analisadas, focando no funcionamento do sistema imunológico. Desses, 96 foram acompanhados por dois anos e vacinados contra a gripe.
Os dados coletados incluíram informações de mais de 16 milhões de células, divididas em 71 grupos, cada um representando um tipo diferente de célula do sistema imune.
Nesta análise, os cientistas observaram que o sistema imunológico enfraquece com a idade, especialmente na resposta às vacinas. A imunologista Cristina Bonorino, da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, explica que esse tema é conhecido há cerca de 30 anos, mas a novidade desse estudo foi o uso de técnicas modernas para analisar as mudanças.
Os pesquisadores encontraram alterações nas células T das pessoas com 65 anos ou mais. Essas células são fundamentais para ajudar outras células do sistema imune a combater infecções. Com o envelhecimento, essas células mudam geneticamente e perdem eficiência, o que também afeta a produção de anticorpos pelas células B. Esse problema também impacta a resposta às vacinas.
As vacinas funcionam porque contêm antígenos, que estimulam o sistema imune a se defender contra doenças. No entanto, a mudança nas células T impede que os antígenos sejam reconhecidos corretamente, dificultando a resposta do corpo à vacinação.
Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), reforça que o envelhecimento afeta o sistema imunológico e coloca os idosos em situação de maior risco. Ele destaca que as vacinas geralmente têm menor eficácia em idosos comparados aos jovens.
Para melhorar essa situação, alguns métodos já são usados, como doses extras de reforço e vacinas com adjuvantes, substâncias que aumentam a resposta do sistema imune.
Outra possibilidade futura é usar técnicas como Crispr para editar o DNA e corrigir os problemas nas células imunológicas dos idosos, mas essa tecnologia ainda não está disponível para esse uso.
