Enquanto o Federal Reserve (Fed), que é o banco central dos Estados Unidos, está reduzindo os juros, outros bancos centrais ao redor do mundo estão mais cautelosos e preferem manter as taxas de juros como estão por enquanto. Países como Brasil, zona do euro, Inglaterra, China, Índia, África do Sul, Indonésia e Coreia do Sul decidiram não mudar suas taxas nas últimas reuniões.
Em uma reunião recente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Brasil manteve a taxa básica de juros (Selic) em 15% pela terceira vez consecutiva, e o mercado espera que essa decisão se repita em dezembro. A expectativa é que os cortes nas taxas comecem a partir de janeiro de 2026.
No Brasil, essa pausa acontece após um período de aumento forte das taxas pelo Banco Central, uma resposta à desvalorização da moeda local, ao crescimento da economia e ao aumento das expectativas de inflação. Agora, com sinais de melhora no cenário econômico, existe a possibilidade de que os juros comecem a ser reduzidos no começo de 2026.
Nos Estados Unidos, o processo de redução dos juros começou devido ao enfraquecimento do mercado de trabalho. Embora o presidente do Fed, Jerome Powell, tenha sido cauteloso e não tenha confirmado cortes para dezembro, ele indicou que o ciclo de redução não terminou, apenas está mais lento.
Segundo Sergio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, tanto Brasil quanto EUA enfrentam incertezas acima do normal. Ele destaca fatores como a valorização do real, desaceleração da inflação e da atividade econômica como motivo para o início dos cortes de juros no Brasil, desde que o governo evite novas medidas que possam aumentar os gastos.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, afirma que outros bancos centrais vinham reduzindo juros, pararam porque consideraram o processo concluído, enquanto o Fed está atrasado nesse ciclo e o Japão ainda planeja aumentos. Ele ressalta que o Brasil teve um movimento diferente, com aumento seguido de pausa.
Impacto das Tarifas Comerciais
Além dos riscos relacionados à inflação, muitos bancos centrais mantêm as taxas firmes devido às incertezas geradas pelas tarifas comerciais aplicadas pelos Estados Unidos, durante a gestão do ex-presidente Donald Trump.
O Copom destacou essa cautela, mencionando que a imposição dessas tarifas ao Brasil, junto com a política fiscal interna, reforça a decisão de manter as taxas sem mudanças.
Hélcio Takeda, economista da Pezco, explica que essas políticas tarifárias afetam tanto os preços quanto a atividade econômica, deixando o impacto geral incerto. Nos EUA, o aumento do custo das importações tende a elevar os preços, mas a produção pode cair devido à menor oferta de insumos, limitando o ajuste dos preços no curto prazo.
Já em outros países, esse efeito pode ser o contrário, com alívio temporário devido à maior oferta de alguns produtos e ao menor crescimento econômico. Isso depende da capacidade de redirecionar exportações para outros mercados.
Para Takeda, a inflação acima da meta é uma preocupação comum entre esses países que mantêm as taxas estáveis. Países como EUA e Noruega já reduzem juros apesar da inflação acima de 3%, enquanto Reino Unido e Suécia pararam os cortes. O Banco Central Europeu, com inflação levemente acima da meta de 2%, justifica também a pausa nas reduções.
O economista destaca que o Brasil apresenta uma inflação elevada em relação à meta, o que explica a manutenção da Selic em 15% por enquanto.
Flávio Serrano reconhece o aumento da incerteza global, mas atribui a pausa da Selic mais ao efeito do forte ajuste já realizado pelo Banco Central do que às tarifas.
Sergio Goldenstein comenta que o impacto direto das tarifas de Trump na inflação brasileira é limitado. Para ele, o importante é a movimentação do dólar a nível global, que desacelerou neste segundo semestre devido a problemas políticos e fiscais na Europa.
Bancos Centrais dos BRICS
Goldenstein afirma que, embora muitos bancos centrais estejam fazendo uma pausa, as situações são diferentes. Na zona do euro, a taxa de juros caiu de 4% em 2024 para 2% em 2025, levemente abaixo do nível neutro.
Ele reconhece que as incertezas sobre a política comercial dos EUA dificultam o trabalho dos bancos centrais, sendo o cenário do Fed mais complicado, agravado por paralisações governamentais e inflação ainda alta. No entanto, espera-se que os efeitos das tarifas sejam temporários.
No Brasil, o canal mais afetado pelas tarifas seria a taxa de câmbio, mas o real tem se valorizado devido à fraqueza do dólar e à alta dos juros locais.
Entre os países do grupo BRICS — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — apenas a Rússia está reduzindo os juros. Os demais mantêm as taxas estáveis devido às incertezas externas. O grupo, que recentemente expandiu para incluir países como Arábia Saudita, Egito e Indonésia, enfrenta condições internas e políticas variadas.
Na Índia, o Banco Central manteve a taxa básica em 5,5%, citando um ambiente global instável e fatores internos importantes. O próximo encontro está marcado para dezembro.
Na China, o Banco Central também manteve as taxas básicas inalteradas, diante da desaceleração econômica, sem emitir comunicado pós-reunião. O próximo encontro ocorre em dezembro.
Na África do Sul, o Banco Central manteve a taxa em 7%, aguardando os efeitos de cortes anteriores enquanto a inflação diminui rumo à meta de 3%. Próxima reunião em novembro.
Em contrapartida, o Banco Central da Rússia reduziu sua taxa para 16,5% em outubro, afirmando que a economia está se estabilizando, embora os preços ainda cresçam acima de 4% ao ano. A próxima decisão será em dezembro.
Europa
O Banco Central Europeu (BCE) manteve os juros estáveis pela terceira vez consecutiva, com inflação próxima à meta de 2%. A presidente Christine Lagarde ressaltou a incerteza nas projeções e afirmou que o BCE continuará atuando com cautela até que a economia mostre sinais claros de melhoria. A próxima decisão será em dezembro.
O Banco da Inglaterra também manteve a taxa em 4%, devido à inflação persistente e crescimento fraco. Analistas preveem cortes só a partir de fevereiro de 2026, com a próxima reunião em novembro.
Ásia e Oceania
No Japão, o Banco Central manteve a taxa básica em 0,5%, mantendo uma postura prudente. A previsão é de possível aumento em dezembro, embora haja risco de adiamento para janeiro, dependendo dos desenvolvimentos econômicos.
Na Austrália, o Banco Central manteve a taxa em 3,6%, observando que será necessário tempo para sentir os efeitos das reduções anteriores. A próxima reunião será em dezembro.
Em resumo, diversos bancos centrais optam por manter as taxas de juros estáveis devido à combinação de incertezas econômicas globais, pressões inflacionárias ainda presentes e políticas comerciais externas, buscando avaliar melhor os efeitos das decisões anteriores antes de alterar suas estratégias.
