Um medicamento que traz alívio rápido para você pode não ter o mesmo efeito em outra pessoa. Isso acontece mesmo quando o diagnóstico é o mesmo.
Segundo a farmacêutica Leila Maluli, de São Paulo, a diferença está no corpo de quem recebe o remédio. “Alguém muito acima do peso, com intestino inflamado e que bebe pouca água pode absorver o medicamento mais lentamente. Já uma pessoa bem hidratada e com intestino saudável sente o efeito mais rápido”, explica.
A forma de administrar o medicamento também influencia. Um analgésico aplicado na veia age quase imediatamente, enquanto o mesmo medicamento tomado por via oral pode demorar até uma hora para fazer efeito.
O corpo e o estilo de vida interferem no efeito
A forma como cada organismo metaboliza, distribui e elimina os medicamentos varia. O farmacêutico Édson Figueiredo, de Brasília, aponta que fatores como idade, peso, doenças no fígado ou rins e problemas no intestino impactam a resposta ao tratamento.
“Algumas condições clínicas modificam o metabolismo dos medicamentos e exigem ajuste da dose ou até troca do remédio”, explica.
A composição corporal também influencia. Medicamentos que se acumulam em gordura podem ter efeito diferente em pessoas com mais tecido adiposo, o que pode retardar ou prolongar a ação da substância, complementa Figueiredo.
Crianças e idosos apresentam variações conhecidas: crianças têm mais água no corpo, alterando a distribuição de remédios solúveis em água, enquanto idosos têm metabolismo mais lento e menor capacidade de eliminar medicamentos, exigindo cuidados especiais na dosagem.
Leila destaca que até os hormônios femininos podem mudar a resposta ao tratamento, pois as variações do ciclo menstrual influenciam a digestão, absorção e excreção de substâncias.
Genética e reações inesperadas
A genética individual é outro fator importante. Algumas pessoas respondem melhor ou pior a certos medicamentos dependendo da predisposição genética. Leila exemplifica que crianças com necessidades especiais precisam de cuidados específicos na medicação.
Nem todas as reações são previsíveis. Uma alergia a penicilina pode aparecer só na primeira vez que a pessoa usa o medicamento. Por isso, é fundamental observar a reação ao longo do tratamento.
Alimentação, álcool e outros hábitos
O estilo de vida também influencia. Dietas com muitos alimentos processados prejudicam a flora intestinal, comprometendo a absorção dos remédios. Leila reforça que uma alimentação equilibrada, rica em arroz, feijão, legumes e verduras, melhora a saúde intestinal e a resposta aos tratamentos.
O uso de álcool, cigarro e drogas ilícitas interfere no metabolismo dos medicamentos. Rogério Hoefler, do Conselho Federal de Farmácia, explica que a fumaça do cigarro acelera o metabolismo de alguns remédios, o que pode exigir doses maiores para efeito semelhante.
O álcool pode acelerar ou retardar o metabolismo, dependendo do consumo, e ainda potencializa efeitos sedativos de antialérgicos e ansiolíticos, conforme explica Tarcísio José Palhano, também do Conselho Federal de Farmácia.
Interações e cuidados na administração
A forma de ingerir o medicamento pode influenciar sua eficácia. Tomar antibióticos como tetraciclinas junto com leite reduz a absorção da substância. Jejum e refeições gordurosas também alteram a absorção dos fármacos no trato gastrointestinal.
Usar dois ou mais remédios ao mesmo tempo pode prejudicar o tratamento. Alguns medicamentos competem entre si, anulando os efeitos ou causando reações adversas, alerta Palhano.
Além disso, armazenar corretamente os remédios é essencial para manter sua eficácia.
Aspectos emocionais também atuam
O estado emocional e as crenças pessoais influenciam a resposta ao tratamento. Rogério Hoefler destaca que o efeito placebo é real e importante em doenças neurológicas, dor crônica e transtornos psiquiátricos.
Mesmo com prescrição correta e ajustada, a resposta ao medicamento depende de fatores como genética, hábitos, idade, peso, outras doenças e uso simultâneo de outros medicamentos.
“Por isso, personalizar o tratamento e acompanhar continuamente são essenciais para garantir a segurança e a eficácia da farmacoterapia”, conclui Hoefler.