JÚLIA MOURA e VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Ao contrário das expectativas de analistas financeiros, o preço do petróleo despencou bastante nesta segunda-feira (23).
Por volta das 15h45, o barril de Brent, que é a referência para o mercado, caiu 7,36% e estava cotado a US$ 71,34. Já o WTI, referência para o petróleo dos Estados Unidos, teve uma queda de 8,77%, chegando a US$ 68,36.
A queda no preço do petróleo se intensificou logo após o Irã atacar a maior base dos Estados Unidos no Oriente Médio, Al-Udeid, em Doha (Qatar), no começo da tarde.
Esse ataque, que não teve vítimas, foi uma retaliação ao ataque dos americanos contra instalações nucleares iranianas, ocorrido no sábado (21).
Para os investidores, essa resposta do Irã foi um alívio. Existia o medo de que o Irã fechasse o estreito de Hormuz, rota por onde passa 20% do petróleo mundial.
Segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, “Depois do ataque americano, a dúvida era se o Irã iria atacar Israel, os EUA ou fechar o estreito de Hormuz. Como os ataques do Irã foram localizados e não indicam fechamento do canal, o preço do petróleo caiu hoje”.
Especialistas comentam que fechar o estreito de Hormuz prejudicaria até a China, que importa cerca de 70% de seu óleo e gás passando por lá.
Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, lembra do prejuízo que isso causaria ao próprio Irã: “O mercado já entende que o conflito foi amenizado depois da resposta iraniana. Como as rotas de petróleo não serão afetadas, os preços caem”.
Bruno Cordeiro, analista de inteligência de mercado da StoneX, acrescenta: “O Irã deve continuar com ataques pontuais, sem fechar Hormuz. O mercado precifica que a logística continuará funcionando normalmente”.
Ele também destaca que o Qatar não é um grande exportador, o que explica porque o preço do petróleo não subiu.
Pela manhã, antes do ataque iraniano, os preços chegaram a subir, mas no fim o movimento virou queda.
A queda coordenou com mensagens do presidente dos EUA, Donald Trump, em sua rede social Truth Social, onde pediu para manter o preço do petróleo baixo, expressando preocupação com o impacto dos conflitos entre Israel e Irã.
Em sua plataforma, ele escreveu em letras maiúsculas: “Todos, mantenham o preço do petróleo baixo, estou observando! Vocês estão fazendo o jogo do inimigo, não façam isso”.
Depois ele pediu ao Departamento de Energia dos EUA para aumentar a produção de petróleo, com a frase: “perfure, baby, perfure”, acrescentando: “quero dizer, agora”. Os EUA são os maiores produtores mundiais.
Além dos EUA, os países da Opep também poderiam aumentar a produção para evitar alta nos preços.
Segundo Roberto Ardenghy, presidente do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás), os EUA têm uma reserva estratégica grande e, se usarem essa reserva, podem compensar a falta de oferta por um bom tempo.