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quarta-feira, 16/07/2025

Por que o Brics incomoda tanto Trump

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que os países do Brics, ou as nações que adotarem as políticas do grupo, sofrerão tarifas extras de 10%. Essa decisão foi tomada após Trump acompanhar de perto a última reunião do bloco de economias emergentes, que ele vê como uma ameaça ao país que governa.

Apesar de afirmar que o Brics não representa uma “ameaça séria”, Trump voltou a criticar o bloco – formado pelo Brasil, Rússia, China, Índia, entre outros – acusando-o de prejudicar os interesses dos Estados Unidos ao aplicar tal taxação.

“Eles precisam pagar 10% se fizerem parte do Brics, porque o bloco foi criado para nos prejudicar. O Brics foi criado para desvalorizar nosso dólar. Tudo bem se eles quiserem jogar esse jogo, mas eu também posso jogar”, disse Trump ao anunciar a medida.

Conflito entre Trump e Brics

No começo de 2025, Trump já havia emitido ameaças contra o Brics. Na época, ele advertiu que aplicaria taxas de 100% sobre os países membros do bloco que não se alinharem aos “interesses comerciais dos EUA”.

Nos últimos anos, os integrantes do Brics debatem a criação de uma moeda única para negociações, como alternativa ao dólar no comércio internacional.

Expansão do Brics

Durante o primeiro mandato de Trump como presidente dos EUA, entre 2017 e 2021, o Brics existia há quase uma década e contava com cinco membros: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Apesar de haver tensões entre Trump e alguns países do bloco, como China e Rússia, ataques diretos ao Brics não ocorreram nesse período. Porém, em seu segundo mandato, o cenário mudou.

Entre 2023 e 2025, o Brics expandiu-se para incluir 11 países membros, entre eles aliados dos EUA: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã, Etiópia e Indonésia. Além disso, países como Nigéria, Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda e Uzbequistão participam como parceiros.

Especialistas ouvidos indicam que a união desses países, os apelos por uma reforma na governança global e a rivalidade entre EUA, Rússia e China levaram Trump a focar sua atenção no Brics.

Importância econômica do Brics

Embora cada país tenha interesses próprios, o Brics representa cerca de 40% da economia mundial, conforme o relatório das Perspectivas Econômicas Mundiais do Fundo Monetário Internacional (FMI). Este percentual supera o do grupo G7, que agrega as sete maiores economias desenvolvidas, com aproximadamente 28%.

O Brics tem ganhado força para substituir o dólar nas transações comerciais internacionais, com propostas como a criação de uma moeda única entre seus membros. Segundo o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, a iniciativa foi sugerida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O privilégio dos Estados Unidos está no papel do dólar como moeda de reserva internacional, amplamente utilizada para comércio, reserva de valor e investimento”, explica a economista da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Ive Ribeiro.

Preocupação com China e Rússia

Além do risco ao dólar, outra grande preocupação americana é a crescente influência global de seus principais rivais: China e Rússia.

“A Rússia é a principal antagonista militar e política dos Estados Unidos e do Ocidente, e a China vem se tornando tal antagonista pelo aspecto econômico e tecnológico, não através de confrontos políticos ou militares”, explica o economista Marcos Hanna, da Armada Asset.

A aproximação desses dois países com nações importantes para o comércio global, como Brasil e Índia, bem como sua relação com países parceiros do Brics, intensifica a preocupação americana. “Isso representa uma ameaça direta à hegemonia dos EUA”, afirma Hanna.

Tanto no primeiro quanto no segundo mandato de Trump, a China é um dos alvos principais das suas políticas, chegando a ser alvo de tarifas de até 145%, uma medida para conter seu crescimento e o uso do Brics como ferramenta nesse cenário.

O analista político e doutorando em Ciências Políticas pela Universidade de Salamanca, Paulo Rebello, destaca que a China hoje lidera o Brics, tanto política quanto economicamente.

“A liderança chinesa no bloco ficou evidente na recente expansão, quando Brasil e Índia resistiram à entrada de regimes autoritários e antiocidentais, como o Irã, mas a China apoiou sua inclusão. Isso mostra como o bloco é usado pela China para formar uma aliança geopolítica que desafia o Ocidente.”

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