Dispositivo feito pela Xiaomi trazia algumas funções de censura a termos e palavras integradas ao sistema operacional. Já outro modelo da Huawei poderia ser vulnerável a ataques
A mensagem foi clara: livrem-se de seus celulares chineses.
Esse foi o aviso dado aos cidadãos da Lituânia que possuem um smartphone fabricado na China.
O governo também desaconselhou a compra de um novo aparelho que vem deste país asiático.
“Nossa recomendação é não adquirir novos telefones chineses e se livrar dos já comprados o mais rápido possível”, disse o vice-ministro da Defesa, Margiris Abukevicius, na terça-feira (21/9).
Este aviso é resultado de um relatório feito pelo Centro Nacional de Cibersegurança da Lituânia, que realizou testes em vários modelos de celular.
Os pesquisadores identificaram que um dispositivo feito pela empresa Xiaomi trazia algumas funções de censura a termos e palavras integradas ao sistema operacional.
Já outro modelo, produzido pela Huawei, poderia ser vulnerável a ataques cibernéticos.
Suspeitas de censura
De acordo com o relatório dos especialistas lituanos, o smartphone Mi 10T 5G, que é o carro-chefe da Xiaomi, possui um software que pode detectar e censurar termos como “Tibete Livre”, “Viva a independência de Taiwan” ou “movimento democrático”.
No documento, também foi destacado que mais de 440 termos podem ser censurados pelos aplicativos instalados no aparelho, incluindo o navegador de internet padrão.
Na Europa, esse recurso de censura de frases ou palavras dos smartphones foi desligado, mas o relatório afirma que ele pode ser reabilitado remotamente a qualquer momento.
Até o fechamento desta reportagem, a Xiaomi não respondeu ao pedido de respostas e comentários sobre o assunto feito pela BBC.
Os autores da investigação também descobriram que o dispositivo da empresa chinesa estava transferindo dados criptografados de uso do telefone para um servidor localizado em Cingapura.
“Isso é importante não apenas para a Lituânia, mas para todos os países que usam equipamentos Xiaomi”, acrescentam os responsáveis pelo relatório.
A fabricante de smartphones se tornou popular recentemente após disponibilizar uma série de modelos com preço mais acessível.
A estratégia fez com que a empresa aumentasse em 64% a receita no segundo trimestre de 2021 em comparação com o ano anterior.
Probabilidade de ataques cibernéticos
A pesquisa também encontrou uma falha no telefone P40 5G da Huawei, que colocava os usuários em risco de violação da segurança cibernética.
“A AppGallery, loja de aplicativos oficial da Huawei, direciona os usuários para endereços eletrônicos de terceiros, onde alguns dos aplicativos foram classificados por programas antivírus como maliciosos ou infectados com vírus”, afirma um comunicado conjunto do Ministério da Defesa da Lituânia e do Centro Nacional de Cibersegurança.
Um porta-voz da Huawei disse à BBC que a empresa cumpre as leis e regulamentos dos países onde opera e prioriza a segurança cibernética e a privacidade.
“Os dados nunca são processados ??fora do dispositivo Huawei”, disse.
“A AppGallery apenas coleta e processa os dados necessários para permitir que seus clientes encontrem, instalem e gerenciem aplicativos de terceiros, da mesma forma que outras lojas de aplicativos [fazem]”, acrescentou.
A Huawei também realiza verificações de segurança para garantir que o usuário faça o download apenas de “aplicativos que são seguros”, aponta a empresa.
A equipe lituana de pesquisadores também examinou um modelo 5G fabricado pela companhia OnePlus. A conclusão foi que ele não apresenta problemas.
A publicação do documento ocorre em um momento em que as tensões entre Lituânia e China estão aumentando.
No mês passado, a China exigiu que a Lituânia retirasse seu embaixador de Pequim e disse que, por sua vez, chamaria de volta o seu enviado diplomático de Vilnius, a capital do país localizado na Europa.
A disputa começou quando Taiwan anunciou que abriria Escritórios de Representação de Taiwan na Lituânia.
Outras embaixadas taiwanesas na Europa e nos Estados Unidos usam o nome da capital do país, Taipei, para evitar uma referência direta ao nome direto da própria ilha, que a China reivindica como parte de seu território.