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Por que a Coreia do Norte não para de enviar balões de lixo ao Sul?

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Em Brasília

(Getty Images/Getty Images)

A Coreia do Norte voltou a lançar balões cheios de lixo à Coreia do Sul neste sábado, 8, anunciaram militares sul-coreanos. “A Coreia do Norte lança mais uma vez (supostos) balões transportando resíduos para o Sul”, disseram os chefes do Estado-Maior conjunto da Coreia do Sul em um comunicado.

As autoridades da Coreia do Sul condenaram o lançamento de balões norte-coreanos, descrevendo a ação como “irracional” e de “baixa classe” e ameaçaram medidas retaliatórias que, afirmaram, poderiam ser “insuportáveis” para seu vizinho. Na última semana, um grupo sul-coreano chegou a enviar músicas k-pop e panfletos contra Kim Jong-un em balões.

Como tudo isso começou?

Os primeiros balões enviados pela Coreia do Norte ao país vizinho do sul foram registrados no dia 28 de maio. Imagens divulgadas pela imprensa do Sul mostraram balões brancos amarrados a sacos plásticos com lixo com fezes dentro.

Conforme autoridades sul-coreanas, até a noite de 1°de junho foram detectados 720 balões carregando sacolas com diversos objetos, incluindo bitucas de cigarro. “A cada hora, entre 20 e 50 balões passaram pelo ar”, declarou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul em comunicado.

De acordo com Pyongyang, o total de balões enviados foi ainda maior: 3.500 infláveis transportando 15 toneladas de lixo, conforme informou o vice-ministro da Defesa da Coreia do Norte, Kim Kang-il. Em comunicado divulgado pela agência estatal, o representante afirmou que a Coreia do Sul agora teve uma amostra de como é “desagradável” lidar com a coleta de rejeitos.

(Divulgação / Ministério da Defesa da Coreia do Sul / AFP/AFP)

Revanche com k-pop

Foram ao menos três remessas em uma semana antes do contra-ataque da Coreia do Sul. Na quinta-feira, 6, balões com dólares, pen-drives de k-pop e panfletos contra Kim Jong-un foram enviados para a Coreia do Norte por um grupo sul-coreano formado por pessoas desertoras do país comunista.

Segundo o grupo, dentro dos 10 balões haviam:

  • 200 mil panfletos com críticas ao regime de Kim Jong-un;
  • 5 mil pen-drives com vídeos de k-pop e dramaturgia sul-coreana;
  • 2 mil notas de US$ 1.

Inicialmente, um funcionário do gabinete presidencial da Coreia do Sul afirmou que Seul responderia com calma à provocação. “Ao colocar lixo e objetos diversos em balões, eles parecem querer testar como nosso povo reagiria e se nosso governo de fato seria perturbado”, afirmou ele a jornalistas um dia após o primeiro envio de balões, na quarta-feira, 29.

No entanto, alguns dias depois, o gabinete do presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol acusou o país vizinho de “provocações sujas que nenhum país normal imaginaria” e afirmou que Seul começaria a tomar “medidas que a Coreia do Norte consideraria insuportáveis”, como a transmissão de propaganda e música k-pop por alto-falantes ao longo da fronteira.

Por que isso está acontecendo?

Ao enviar os objetos ao espaço aéreo vizinho, Pyongyang afirma estar devolvendo “na mesma moeda” ações de desertores norte-coreanos que vivem na Coreia do Sul e espalharam “panfletos e várias coisas sujas” na fronteira. Ativistas sul-coreanos enviam regularmente infláveis contendo panfletos ‘anti-Pyongyang’, comida, remédios, dinheiro e pen drives com vídeos de música k-pop.

As provocações entre Coreia do Norte e Coreia do Sul são frequentes. Desde o armistício que pôs fim à Guerra da Coreia em 1953, as duas nações tecnicamente ainda estão em conflito e são separadas por uma zona desmilitarizada.

Geralmente, as provocações envolvem exercícios militares e lançamentos de mísseis, como ocorreu na última quinta-feira, 30, quando a Coreia do Norte disparou cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance nas águas ao leste da península, conforme relatado por Seul.

<img src="data:;base64,” alt=”” aria-hidden=”true” />Coreia do Norte dispara míssil balístico não identificado

Na tela, aviso de envio de míssil balístico não identificado disparado pela Coreia do Norte (AFP/AFP)

Contexto histórico

A estratégia recente remonta aos tempos da Guerra Fria, quando as duas Coreias tentavam influenciar uma à outra através de transmissões de rádio. Ao longo da zona desmilitarizada, alto-falantes bombardeavam os soldados rivais dia e noite com canções de propaganda, enquanto cartazes incentivavam os militares a desertar para um “paraíso do povo” no Norte ou para o Sul “livre e democrático”.

Naquela época, o envio de balões ao espaço aéreo vizinho já era uma prática comum em ambos os lados. Milhões de panfletos difamatórios sobre o país vizinho eram espalhados pela Península Coreana, material que tanto o Norte quanto o Sul proibiam suas populações de ler ou guardar. No Sul, a polícia incentivava as crianças a denunciar os panfletos que encontravam, oferecendo recompensas como lápis e outros materiais escolares.

Hoje, Seul e Pyongyang continuam em uma delicada troca de provocações e respostas, cada uma testando os limites da outra. A resposta firme da Coreia do Sul e a promessa de medidas “insuportáveis” destacam a fragilidade das relações na Península Coreana e o potencial para futuras escaladas.

(Com AFP e O Globo)

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