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sábado, 06/12/2025

Por que a compra da Warner pela Netflix preocupa cineastas e produtores

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ALESSANDRA MONTERASTELLI e LUCAS BRÊDA
FOLHAPRESS

O acordo para a compra bilionária da Warner Bros. Discovery pela Netflix, anunciado nesta sexta-feira (5), está deixando profissionais do cinema preocupados. Se a fusão acontecer – ainda depende da aprovação das autoridades dos Estados Unidos -, a gigante do streaming pode dominar uma grande parte do mercado audiovisual, e os produtores podem ter menos chances de ver seus projetos realizados e exibidos.

Além disso, há um medo generalizado em relação às salas de cinema, que voltaram a atrair público com dificuldade após a pandemia de Covid-19. Isso porque a Netflix prioriza conteúdo online, assistido em casa, e não em telas de cinema. Filmes recentes da plataforma, como “Frankenstein” e “Casa de Dinamite”, ficaram menos de três semanas nos cinemas.

O cineasta Kleber Mendonça Filho afirmou em uma postagem no X (antigo Twitter) que continuará garantindo contratos com um período mínimo de três meses para a exibição de seus filmes nas salas de cinema. “Se os cinemas começarem a fechar, meu filme será exibido nas salas que ainda existirem e nos países que valorizarem a experiência do cinema”, disse.

O diretor dos filmes “O Agente Secreto” e “Bacurau” disse que seus filmes podem ser exibidos em cinemas tradicionais – mencionou o São Luiz, em Recife, o Glauber Rocha, em Salvador, e o Cine Brasília – antes de chegarem às plataformas digitais. Ele reconhece o streaming como uma ótima forma de assistir filmes, mas não acha que isso pode acabar com a cultura do cinema presencial. “São os cinemas que constroem a história e o valor de um filme.”

Mauro Garcia, presidente da Brasil Audiovisual Independente, que representa mais de 600 produtoras no país, disse que para os produtores é melhor ter várias opções para negociar seus projetos. “Quando existe concentração, o risco para produção independente é ter que negociar apenas com um estúdio”, explicou.

Com a compra da Warner Bros., a Netflix também assume a HBO, concorrente forte no mercado de séries, além de canais de televisão como Warner Channel e Cartoon Network. Conforme essas fusões entre grandes empresas aumentam, a variedade de opções para negócios e narrativas tende a diminuir, alerta Garcia.

Ele destaca que, se uma história for recusada pela Netflix, há grande chance de também ser rejeitada por outros estúdios que pertencem à mesma empresa. “Ainda não sabemos se os contratos serão centralizados para todas as plataformas ou se cada marca vai operar de forma separada, mas esse risco existe.”

A Warner Bros., uma empresa com mais de 100 anos, era uma das poucas que resistia à entrada forte das empresas de streaming e das grandes empresas de tecnologia em Hollywood. André Sturm, presidente da rede Cinesystem e Belas Artes, afirmou que a Warner é conhecida por apoiar cineastas e ainda faz grandes lançamentos de filmes nos cinemas.

A Netflix prefere lançar seus títulos diretamente no streaming rapidamente. Sturm alerta que existe o risco de que filmes com o selo Warner Bros. fiquem pouco tempo em cartaz nos cinemas.

Esse receio é compartilhado por parte do mercado de exibição nos Estados Unidos. Ted Sarandos, CEO da Netflix, comentou após o anúncio da fusão para tranquilizar o setor, dizendo que os filmes da Warner Bros. continuarão estreando nos cinemas. No entanto, ele afirmou que as janelas de exibição vão evoluir para permitir que o público tenha acesso aos filmes mais rapidamente.

Para Sturm, a operação pode prejudicar ainda mais um cinema já fragilizado pela pandemia e pela competição com o streaming, além de reduzir o acesso do público a certos filmes, que passariam a estar disponíveis apenas para assinantes da Netflix, que no Brasil tem planos a partir de R$ 20,90 por mês no plano básico com anúncios.

Ele também acha improvável que a Netflix invista em relançar clássicos no cinema, como a Warner faz atualmente, por exemplo, com “O Iluminado”, de Stanley Kubrick, que volta às salas neste mês. Isso poderia afetar a cultura de assistir filmes na tela grande.

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