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domingo, 24/11/2024
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Polônia recorda a fome e o frio das deportações à Sibéria

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A União Soviética deportou do território polonês mais cerca de 100 mil pessoas – alemães, silesianos ou poloneses – muitas vezes membros da antiga resistência polonesa contra os nazistas.

(crédito: Wojtek RADWANSKI / AFP)

Há quase uma vida, Elzbieta Smulkowa foi deportada da Polônia para a distante Sibéria, mas a memória ainda a comove: “O pior era a fome, a falta de aquecimento e a impossibilidade de ajudar mais a minha mãe”.

Ela tinha 10 anos quando, junto com sua irmã e mãe, deixou sua casa em Lviv (hoje Ucrânia), na época polonesa, mas ocupada pelo Exército Vermelho, para se juntar a milhões de deportados para a Sibéria Soviética, incluindo centenas de milhares de poloneses.

Seu pai, um guarda florestal, havia sido preso um ano antes pela polícia política soviética. Só meio século depois eles puderam confirmar sua morte no massacre de Katyn, onde mais de 20 mil oficiais e membros da elite social polonesa foram assassinados por ordem pessoal de Stálin.

As vítimas das deportações serão recordadas no Memorial da Sibéria em Bialystok (noroeste), a ser inaugurado em 17 de setembro, aniversário da invasão da Polônia pela União Soviética em 1939, pouco depois da entrada da Alemanha nazista pelo oeste.

O museu aborda não apenas as deportações soviéticas, mas também as da época em que parte da Polônia esteve sob o jugo dos czares.

Organizado em uma antiga instalação militar, o Memorial está “exatamente no local de onde partiam os comboios de deportados” durante a Segunda Guerra Mundial, disse à AFP Wojciech Sleszynski, diretor deste centro único na Europa.

As deportações para a Sibéria não afetaram apenas os poloneses, mas todos aqueles considerados hostis à Rússia dos czares e, posteriormente, à União Soviética.

Russos, ucranianos, alemães, italianos, bálticos, tártaros… representantes de até 60 nações diferentes estão entre as vítimas do Grande Expurgo de Stalin, dos trabalhos forçados nos gulags ou deportações.

“O museu apresenta a perspectiva polonesa porque estamos na Polônia”, mas “há muitos elementos da experiência universal, do sistema totalitário, do sofrimento e da migração forçada”, apontou Sleszynski.

Também há exemplos de alguns que aproveitaram a ocasião para desenvolver suas paixões e conhecer melhor a Sibéria, como o zoólogo Benedykt Dybowski ou Bronislaw Pilsudski que, em um fonógrafo de Thomas Edison, registrou testemunhos únicos dos povos indígenas recentemente restaurados.

As deportações soviéticas entre 1940 e 1941 cobriram todo o antigo território da Polônia, uma encruzilhada de nações.

Pelo menos 330 mil pessoas foram expulsas – poloneses, judeus, bielorrussos, ucranianos e outros – dos quais, 130 mil eram crianças.

No caso de Elzbieta, a jornada com sua irmã e sua mãe as levou de sua casa para um vilarejo 6.000 km a leste perto de Kargasok, no meio da taiga.

“Havia duas famílias polonesas, quatro ucranianas e seis letãs”, disse à AFP Smulkowa, que acabaria se tornando professora de línguas eslavas na Universidade de Varsóvia e a primeira embaixadora polonesa em Belarus.

Sua mãe trabalhava no campo e protegia suas filhas.

“Nós, as crianças, encontrávamos proteção e amor em nossas mães porque elas não tinham mais nada. Elas foram privadas de seus maridos, de suas casas, de tudo”, relata.

Vários objetos do Memorial lembram essa experiência de forma concisa e simbólica: uma imagem da Virgem que viajou três vezes à Sibéria com três gerações da mesma família, uma máquina de costura que permitiu sobreviver à miséria ou um violino oferecido a um policial por uma menina de dez anos para poder retornar à Polônia.

Depois da guerra, aos poucos, os deportados puderam retornar aos seus países. Em 1946, quando voltou para a Polônia, “tive realmente a sensação de que a relva era mais verde e o céu mais azul”, diz Elzbieta Smulkowa.

Mas o fim da guerra não terminou com as deportações.

A União Soviética deportou do território polonês mais cerca de 100 mil pessoas – alemães, silesianos ou poloneses – muitas vezes membros da antiga resistência polonesa contra os nazistas.

Na história europeia, “todos nós conhecemos episódios de deportações. Tentamos falar sobre isso, sem acusações mútuas, mas concentrando-nos nos temas universais do sofrimento e das experiências”, diz Sleszynski.

 

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