Thaísa Oliveira
Brasília, DF (FolhaPress)
Documentos encontrados pela Polícia Federal indicam que policiais federais em atividade participaram da campanha eleitoral do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) em 2022, mesmo estando oficialmente em licença remunerada para capacitação.
O relatório da investigação conhecida como “Abin paralela” aponta que três policiais federais receberam R$ 2.000 por mês durante a campanha de Ramagem à Câmara dos Deputados, além dos salários pagos pela PF com recursos públicos.
Os servidores, Felipe Arlotta Freitas, Henrique César Prado Zordan e Alexandre Ramalho Dias Ferreira, foram cedidos à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo de Jair Bolsonaro quando Ramagem era diretor-geral da agência, permanecendo também na gestão seguinte, de Victor Carneiro.
A suspeita de que parte da equipe que apoiava Ramagem na Abin tenha atuado na campanha eleitoral já vinha sendo investigada pela Controladoria-Geral da União (CGU), porém a Polícia Federal identificou duas planilhas com supostos gastos relacionados à campanha.
Em um dos arquivos, chamado “Estimativas de gastos base (jun e jul)”, os nomes dos policiais aparecem na categoria “pagamento de pessoal” junto a despesas como aluguel, condomínio e faxina nos meses citados.
Outra planilha intitulada “Gastos”, encontrada em uma pasta no computador de Ramagem nomeada “Campanha 2022”, confirma que cada policial recebeu R$ 2.000 mensais, totalizando R$ 6.000 no período.
O relatório destaca que “usar policiais federais para trabalhar em campanha eleitoral, desviando-os de suas funções oficiais e mediante pagamento, configura uma conduta com implicações penais”.
Além disso, a licença remunerada recebida não permite o exercício de outra atividade remunerada, dado o regime jurídico de dedicação exclusiva dos policiais federais, conhecimento compartilhado pelos envolvidos e por Alexandre Ramagem Rodrigues.
Dois dos policiais tiraram licença remunerada para capacitação entre julho e setembro de 2022 e outro até outubro do mesmo ano. A PF informou que parte das atividades desses servidores incluía levantamento de informações sobre pessoas e candidatos ligados a Ramagem.
Na residência de um dos policiais, foi encontrado contrato de locação de imóvel na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, utilizado como base para a campanha eleitoral.
O relatório aponta que, considerando os pagamentos a pessoas com impedimento legal durante a campanha, existem indícios de que esses gastos não constam nas declarações oficiais da campanha de Ramagem.
Os três policiais e o deputado foram indiciados pela Polícia Federal. Ramagem criticou a operação em 17 de outubro, antes da publicação do relatório final, afirmando que a investigação “descambou” e que havia motivação política.
No final do ano anterior, o governo federal exonerou um oficial da Abin que trabalhou com Tarcísio de Freitas no governo Bolsonaro e atuou como segurança dele na campanha ao governo de São Paulo em 2022.
Até o momento, o resultado das sindicâncias da CGU sobre possíveis irregularidades envolvendo os policiais vinculados a Ramagem não foi divulgado.