O jornalista e youtuber Paulo Figueiredo, que trabalha junto ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos para pressionar por sanções contra o Brasil, está sob investigação da Polícia Federal (PF) no inquérito que analisa a conduta do parlamentar por supostos crimes de coação durante processo, obstrução de investigação e tentativa de eliminar o Estado Democrático de Direito de forma violenta.
Fontes da PF revelaram ao Metrópoles que existem “evidências claras” da colaboração entre o neto do ex-presidente João Figueiredo e Eduardo Bolsonaro, atuando para influenciar o Poder Judiciário, pressionando por sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e membros do Ministério Público.
De acordo com as apurações, Paulo Figueiredo tem realizado lobby junto ao governo do presidente Donald Trump, buscando apoio para punir autoridades brasileiras. Ele é considerado interlocutor direto de Eduardo Bolsonaro e possui acesso a figuras importantes do governo americano.
A PF já juntou declarações públicas e provas que indicam a atuação conjunta entre os dois, especialmente em esforços para obter sanções contra ministros do STF. Dois eventos foram destacados: um mais recente, onde Figueiredo afirmou nas redes sociais que, graças à sua intermediação, os ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes foram “poupados” das sanções aplicadas a Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky; e outro, datado de 7 de maio, no qual apareceu ao lado de Eduardo Bolsonaro na Casa Branca, afirmando que estava organizando reuniões em Washington (DC) para articular sanções contra Moraes.
O inquérito possui prazo inicial de 30 dias para conclusão, podendo ser prorrogado, e foi aberto após pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) ao ministro Alexandre de Moraes. A PGR alega que Eduardo Bolsonaro tem usado um “tom intimidatório” para interferir no julgamento da ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O procurador-geral Paulo Gonet explica que a ameaça está na possibilidade de punições pelo governo americano, que Eduardo, apresentando-se como influente, afirma ter conseguido concretizar em várias instâncias. As punições estariam prestes a serem aplicadas, de forma gradual ou imediata, a autoridades que investigam o parlamentar, assim como a seu pai e aliados. Essas autoridades incluem a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal.
Segundo Gonet, as atitudes do deputado seriam uma reação ao que ele vê como uma “perseguição política” contra si e seu pai, que para a PGR lidera uma organização criminosa que tentou romper com a ordem democrática e manter-se no poder mesmo após as eleições de 2022.
Eduardo Bolsonaro, afastado da Câmara desde março deste ano, mudou-se para os Estados Unidos, onde afirma expor abusos cometidos pelo ministro Alexandre de Moraes. O pedido da PGR atende a uma representação do deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara.
No documento, a PGR aponta que o objetivo de Eduardo é atrapalhar o andamento técnico do julgamento no STF e os trabalhos no inquérito das fake news. As medidas mencionadas pelo deputado incluem a cassação de visto para entrar nos EUA, o bloqueio de bens no país e a proibição de relações comerciais com americanos ou empresas que operem nos Estados Unidos.