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quarta-feira, 29/10/2025

Polícia afeta vacinação de crianças e saúde, diz estudo do Unicef

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LUÍSA MONTE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Operações policiais têm causado impactos negativos nos serviços públicos de saúde, como mostrado por uma ação recente no Rio de Janeiro que resultou na morte de ao menos 64 pessoas.

Um relatório do Unicef, em conjunto com a ONG Redes da Maré, revela que essas operações criam uma crise na saúde, não só pelo fechamento temporário das unidades básicas, mas também pelo medo da população de sair de casa.

Segundo o governo Cláudio Castro (PL), as forças de segurança atuaram nos complexos do Alemão e da Penha para conter a expansão do Comando Vermelho. A operação, considerada a mais violenta da história do estado, fechou escolas e gerou caos na cidade.

O estudo analisou a vacinação de 15 mil crianças no Complexo da Maré, localizado na zona norte do Rio. Em dias normais de 2024, as unidades de saúde do local aplicavam cerca de 187 vacinas em crianças diariamente.

Durante operações policiais intensas, com fechamento de pelo menos uma clínica, o número de vacinas aplicadas caiu quase 90%, para 20 doses. Mesmo quando todas as unidades estavam abertas, a vacinação diminuiu 77%, para uma média de 43,6 doses.

Em 2024, ocorreram 42 operações policiais com tiroteios ao longo de 37 dias. Em 90% dessas operações, veículos blindados circularam perto das unidades de saúde, criando uma barreira que impede o acesso da população.

No primeiro semestre de 2025, em 118 dias sem operações, a média diária de doses aplicadas foi de 176,7, com 76 crianças vacinadas por dia. Porém, nos dias de operação policial com fechamento das unidades, a média caiu para 21,1 doses e 11 crianças vacinadas, uma queda de 85%.

Marcos Kalil, oficial de proteção do Unicef no Brasil, destaca que o estudo evidencia como um modelo de segurança pública que não protege pode afetar direitos sociais como saúde e educação. “A segurança precisa considerar a saúde e a educação”, afirma.

De acordo com Carolina Dias, coordenadora da Redes da Maré na área de direito à saúde, a cobertura de vacinação no complexo é alta graças ao esforço da comunidade. Nos dias de operação, entretanto, o acesso às vacinas é bloqueado.

“Perdemos dias importantes para melhorar ainda mais a vacinação. Perder essas oportunidades pode agravar a saúde coletiva”, alerta Carol, usando linguagem simples para explicar a gravidade do impacto.

O relatório sugere que as soluções a curto prazo incluem buscar ativamente as crianças e suas mães para vaciná-las nos dias seguintes às operações. Contudo, isso sobrecarrega o sistema de saúde, que precisa recuperar consultas e vacinas adiadas, dobrando o trabalho.

Como alternativa, a Prefeitura do Rio, junto com a Redes da Maré, Fiocruz e Ministério da Saúde, criou o projeto Saúde Digital, que oferece teleconsultas nos dias de operação.

Além disso, o relatório recomenda ampliar a vacinação para outros locais além das unidades de saúde, como escolas e centros de assistência social, para facilitar o acesso.

O estudo destaca ainda a importância de integrar as políticas de segurança e saúde. O Unicef reconhece avanços com a ADPF 635, ação popular que busca garantir os direitos dos moradores afetados por operações policiais.

Segundo Marcos Kalil, “a ADPF 635 criou instâncias de governança compartilhada entre educação e segurança que precisam ser permanentes e incluir também a saúde”.

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