Começa nesta terça-feira, 27, o júri popular do policial militar Victor Cristilder, preso por suspeita de envolvimento na maior chacina da história de São Paulo, que terminou com 17 mortos e outros sete feridos em Osasco e Barueri, na Grande São Paulo. Além dos ataques, em agosto de 2015, o policial também é réu em outro homicídio, em Carapicuíba, em uma espécie de “pré-chacina”.
Outros dois PMs e um guarda-civil de Barueri foram condenados a mais de 600 anos de prisão, na soma das penas, em setembro. O julgamento de Cristilder foi desmembrado após recurso da defesa. Agora, o resultado pode afetar a decisão anterior. O PM, por exemplo, é o principal elo entre a chacina e o GCM Sérgio Manhanhã, que foi condenado a 100 anos e 10 meses de prisão. Eles trocaram “joinhas”, via WhatsApp, em horários que coincidem com o início e o fim dos crimes, mas alegam que a “conversa”, só com sinais, era sobre o empréstimo de um livro de Direito.
Uma testemunha-chave, que havia “sumido” durante a fase de instrução, também reapareceu após o primeiro julgamento e, desta vez, deve afirmar em plenário que mentiu ao denunciar o PM Thiago Heinklain, condenado a 247 anos, 7 meses e 10 dias de prisão. Por sua vez, o PM Fabrício Eleutério, reconhecido por outra testemunha protegida, recebeu 255 anos, 7 meses e 10 dias. Todos recorreram da sentença e uma possível absolvição de Cristilder pode ajudar com o recurso.
Lógica
“Se a lógica prevalecer, o resultado tem de ser o mesmo, já que a prova que incrimina os quatro é basicamente a mesma”, disse o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira. Na denúncia, o Ministério Público diz que eles “integraram verdadeira organização paramilitar, milícia particular, (…) com finalidade de praticar crimes”. Segundo a acusação, a chacina aconteceu para vingar um PM e um GCM, mortos enquanto faziam “bico”.
Contra Cristilder, além das mensagens com Manhanhã, pesa o reconhecimento de uma testemunha que o teria visto usando o mesmo veículo da chacina, um Renault Sandero. O carro nunca foi localizado. Outro indício é o caso da vítima Wilker Osório, morto com 40 tiros, que já havia sido preso pelo PM por tráfico de drogas.
O plenário do Fórum Criminal de Osasco foi reservado por quatro dias. Há previsão de 25 testemunhas, entre sobreviventes, familiares e policiais da força-tarefa. O secretário da Segurança Pública de São Paulo da época, hoje ministro do STF, Alexandre de Moraes, chegou a ser chamado como testemunha, mas, por ofício, teria comunicado que não estará presente.
Pré-chacina
Cristilder é réu, ainda, do assassinato de Michael do Amaral Ribeiro, de 27 anos, morto a tiros uma semana antes da chacina, em Carapicuíba. Ele teve o corpo despejado em um córrego. Uma testemunha reconheceu o PM como um dos autores dos disparos, mas o suspeito chegou a ser absolvido da acusação em 2016, por uma juíza da 1.ª Vara Criminal de Carapicuíba, que alegou supostas contradições da testemunha.
O Tribunal de Justiça, porém, entendeu que havia indício suficiente para Cristilder ser levado a júri e recentemente reformou a decisão. “A palavra da referida testemunha não consiste no único elemento que milita em desfavor do acusado”, diz o acórdão. A defesa recorreu.
O advogado João Carlos Campanini diz que Cristilder é inocente das duas acusações. “Não vamos nem discutir fragilidade de provas. Vamos tentar provar a inocência dele com base no processo”, afirmou.