A economia do Brasil mostra sinais de desaceleração, principalmente influenciada pelo setor agropecuário, que até pouco tempo estava em crescimento acelerado. Essa informação vem do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) referente ao mês de junho, conforme análise de especialistas consultados pelo Estadão. A maioria dos analistas atribui essa desaceleração ao impacto de uma política monetária mais rigorosa, que tem como objetivo controlar a inflação, mas que também dificulta o acesso ao crédito e diminui o consumo.
Em junho, o IBC-Br, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), apresentou uma queda de 0,10% quando comparado ao mês anterior, contrariando a previsão de leve crescimento de 0,05%. Na comparação anual, o índice cresceu 1,4%, ficando acima das expectativas do mercado, que previam uma alta de 1,25%.
O setor agropecuário apresentou uma melhora na comparação mensal, porém sua performance puxou o índice para baixo com uma queda de 2,3% em junho, após ter crescido 4,25% em maio. No comparativo anual, o crescimento também diminuiu, ficando em 5%, contra 8,43% em maio.
Análise dos especialistas
Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, explica que os dados indicam uma economia em processo de transição, com um crescimento mais moderado influenciado por fatores de demanda interna e oferta externa.
Rodolfo Margato, economista da XP, menciona que a desaceleração recente dos setores está relacionada à estratégia de política monetária que busca frear a inflação, e que apesar disso, o setor primário, especialmente a agropecuária, ainda impulsiona o crescimento no curto prazo.
Leonardo Costa, economista do ASA, ressalta que o desempenho mais fraco do setor agropecuário está refletindo o impacto do primeiro trimestre muito forte, o que levou à revisão da previsão de crescimento do PIB no segundo trimestre de 2025, de 0,4% para 0,3%.
Por sua vez, André Valério, do Inter, minimiza a queda do IBC-Br destacando que foi causada principalmente pelo desempenho do agronegócio. A instituição mantém a previsão de crescimento do PIB em 0,4% para o segundo trimestre e acredita que o ritmo de atividade continuará diminuindo ao longo do segundo semestre.
Ajustes nas projeções
Rafael Perez, economista da Suno Research, revisou para baixo a expectativa de crescimento do PIB em 2025, de 2,4% para 2,3%, após a divulgação do índice de junho, destacando que a retração foi influenciada especialmente pela queda no IBC-Br Agropecuário.
O banco Santander também alerta para riscos adicionais que podem afetar o crescimento econômico, como tarifas impostas pelos Estados Unidos, mas mantém sua projeção de crescimento do PIB em 2,0% para 2025.
Essas análises mostram que o crescimento econômico do país está enfrentando um momento de ajuste, especialmente pelo impacto do setor agropecuário, em meio a políticas econômicas que buscam controlar a inflação enquanto equilibram o acesso ao crédito e o consumo.