Victor Lacombe
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A Polícia Federal (PF) iniciou uma operação nesta quarta-feira (3) para apurar um surto de um vírus fatal que está afetando as ararinhas-azuis na Bahia. Essa ave é muito rara e considerada extinta na natureza.
Segundo a PF, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão em Curaçá (BA), local onde está a empresa Criadouro Ararinha-azul, responsável pelo cativeiro, e em Brasília, com o objetivo de recolher aves e equipamentos eletrônicos.
Os investigados podem responder por crimes como a propagação de doença que pode prejudicar a fauna, morte de animais silvestres e obstrução da fiscalização ambiental, conforme informado pela corporação.
A operação chamada Blue Hope ocorre dentro de uma investigação que apontou indícios de que empresas e pessoas ligadas ao programa de reintegração das ararinhas-azuis não seguiram protocolos sanitários obrigatórios. Isso teria permitido a entrada e propagação do circovírus, segundo a nota da PF.
Esse vírus, que não representa risco para humanos ou aves de produção, não tem cura e geralmente causa a morte dos animais afetados. De acordo com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, 31 das 103 ararinhas-azuis em Curaçá testaram positivo para o circovírus, incluindo todas as 11 aves que estavam soltas na natureza e foram recapturadas.
Especialistas afirmam que provavelmente todas as aves no criadouro já estão infectadas pelo circovírus. A empresa Criadouro Ararinha-azul contesta essa afirmação e questiona os resultados dos testes feitos pelo governo, alegando que é cedo para afirmar que todas as aves soltas na natureza estão doentes.
A empresa declara que segue protocolos rigorosos de biossegurança e cuidado com os animais, além de possuir instalações e equipamentos adequados para o manejo das aves. Também nega que as últimas ararinhas-azuis na natureza estejam em risco iminente devido ao circovírus. A empresa ainda não se pronunciou sobre a operação da PF desta quarta-feira.
A Criadouro Ararinha-azul, anteriormente chamada Blue Sky, foi fundada por Ugo Vercillo, ex-servidor do ICMBio associado à ONG alemã ACTP (Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados). Em uma investigação conjunta com o jornal SZ, a Folha revelou que essa ONG realizou transações milionárias envolvendo a ararinha-azul na Europa, consideradas pelo governo brasileiro como comerciais e fora do escopo da conservação.
Essas transações motivaram o rompimento do contrato do ICMBio com a ACTP em 2024. Desde então, a Criadouro Ararinha-azul, então Blue Sky, ficou responsável pelo criadouro em Curaçá, onde está a maior concentração da espécie no Brasil. Além das 103 aves em cativeiro na Bahia, existem apenas 27 no Zoológico de São Paulo.

