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sábado, 06/09/2025

Petrobras reforça importância do etanol de milho no Brasil

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PEDRO LOVISI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A Petrobras demonstra interesse em entrar no mercado de etanol produzido a partir do milho, o que fortalece um segmento que teve um crescimento rápido nos últimos quatro anos. Embora a estatal ainda não tenha decidido sobre o investimento, essa possibilidade destaca o valor crescente do etanol de milho para investidores, em comparação com o tradicional etanol de cana-de-açúcar.

Atualmente, o etanol de milho representa 17% da produção anual de etanol no Brasil, um aumento significativo em relação aos 8% de quatro anos atrás. A expectativa é de que essa participação continue a crescer, conforme novos investimentos sejam realizados, enquanto o crescimento do etanol de cana segue mais lento. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) projeta que até 2034 o milho responda por 23% da produção nacional, com o setor formalizando previsões ainda maiores.

Segundo a UNEM, que representa grandes produtores desse tipo de etanol, existem 24 biorrefinarias em operação no país, 16 com autorização para construção e outras 16 planejadas. Recentemente, a Inpasa, maior empresa do ramo, anunciou uma parceria com a Amaggi para erguer três novas plantas no Mato Grosso.

O sucesso do etanol de milho está ligado principalmente à sua rentabilidade. Diferentemente do etanol de cana, sua produção gera o subproduto DDG, usado como ração para gado, que pode cobrir até 40% do custo com milho, além do potencial para extração de óleo do grão, conforme consultoria Datagro.

Além disso, o aumento do preço do milho nos últimos anos elevou a margem de lucro dos fornecedores, que geralmente cultivam milho após a colheita da soja, aumentando seu ganho geral. Um empresário do setor comentou que o lucro também se beneficia da maior demanda interna do etanol de milho, reduzindo os custos de exportação do grão, distribuindo ganhos por toda a cadeia produtiva.

Segundo Plinio Nastari, consultor da Datagro, atualmente não há projetos para novas usinas de cana no Brasil.

Dados da Unica mostram uma queda na proporção da cana usada para etanol, sendo que na safra de 2019/2020 foi 65%, e na mais recente caiu para 52%, enquanto o preço do açúcar atingiu recordes históricos.

Ricardo Mussa, ex-CEO da Raízen, maior produtora de etanol de cana, ressalta que o etanol de milho tem sido mais lucrativo e que produtores de cana têm preferido o açúcar devido à maior rentabilidade.

Entretanto, Mussa acredita que o aumento do etanol de milho vai expandir o consumo principalmente no Norte e Nordeste, regiões com pouca oferta do produto, onde estão localizadas várias plantas em construção ou autorizadas. Isso abre um novo mercado para o etanol, beneficiando consumidores com carros flex dessas regiões.

Rafael Borges, analista de mercado da StoneX, entende que a maior oferta de etanol deve reduzir seu preço, tornando-o mais competitivo em relação à gasolina.

Esse contexto pode intensificar o interesse da Petrobras no setor, ainda mais com a recente ampliação pelo governo da mistura de etanol até 30% na gasolina, podendo chegar a 35% conforme a lei Combustível do Futuro.

A Petrobras declarou que o etanol é uma área estratégica de baixo carbono e que estuda parcerias com empresas relevantes, preferindo participações minoritárias ou controle compartilhado, mas ainda não há definição sobre prazos ou matérias-primas.

Especialistas do setor indicam que a estatal pode encontrar desafios para entrar num mercado dominado por líderes consolidados como Inpasa e FS, sendo economicamente interessante apenas a parceria em distribuição, área que a Petrobras está proibida de atuar até 2029 por contrato com a Vibra.

Perspectivas internacionais

O etanol de milho pode também conquistar maior aceitação internacional, principalmente para a produção de biocombustíveis sustentáveis para aviões e navios, além do hidrogênio verde. A União Europeia, principal mercado para esses combustíveis, resiste a rotas que possam afetar a segurança alimentar e causar desmatamento, temas muito discutidos em fóruns globais onde o Brasil participa.

Pedro Guedes, analista de transição energética do Instituto E+ Transição Energética, explica que o milho brasileiro, cultivado após a soja em áreas agrícolas já existentes, pode ser melhor aceito, pois não expande a fronteira agrícola nem contribui para o desmatamento.

Em julho, a Organização de Aviação Civil Internacional aprovou o uso do etanol de milho para combustível sustentável de aviação, um marco importante para o setor.

Quanto ao etanol de cana, o setor aposta no crescimento do etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço da cana, que não compete com a produção de açúcar. A Raízen já opera três usinas nessa modalidade, representando atualmente cerca de 2% de sua produção.

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