NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
A Petrobras está tentando firmar alianças com grandes estaleiros da China para dar um novo fôlego à indústria naval brasileira. A proposta é estimular colaborações entre as empresas dos dois países, visando captar investimentos e melhorar a saúde financeira do setor naval nacional.
“Gostaríamos que as companhias chinesas fossem parceiras dos nossos estaleiros aqui. Existem estaleiros em processo de recuperação, outros que precisam de modernização e algum tipo de supervisão”, declarou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
Ela participou da cerimônia de assinatura de memorandos de interesse entre estaleiros brasileiros e chineses, com o objetivo de explorar possíveis parcerias e transferência de tecnologia. O encontro marcou o final de uma semana em que executivos chineses visitaram a indústria naval do Brasil.
Em entrevista, Magda Chambriard disse que o grande volume de encomendas da Petrobras chamou a atenção dos chineses, que permaneceram uma semana no país. O foco principal são as encomendas para construção de navios e embarcações de apoio às plataformas marítimas.
Os memorandos foram firmados entre estaleiros chineses COOEC, CSSC, Cosco e CIMC e os brasileiros EBR (Estaleiros do Brasil), ERG (Estaleiro Rio Grande), EAS (Estaleiro Atlântico Sul), Estaleiro Mauá e Estaleiro Enseada.
A expectativa é que a colaboração com os grandes estaleiros chineses permita superar o maior desafio atual dos estaleiros nacionais: a dificuldade de obter recursos financeiros para concretizar contratos com a Petrobras.
No evento, o secretário de Petróleo e Gás do MME (Ministério de Minas e Energia), Pietro Mendes, destacou que a recuperação da indústria naval é uma ação integrada do governo federal. “São necessárias políticas públicas que tornem essa indústria competitiva”, afirmou.
“O Brasil possui uma demanda enorme por embarcações. É fundamental integrar o país à cadeia produtiva global”, disse o secretário adjunto de Energia da Casa Civil, Ricardo Buratini. “É incompreensível que o Brasil não tenha uma indústria naval forte”, reforçou Magda.
Atualmente, o Brasil é o maior contratante de navios-plataforma para exploração de petróleo, conhecidos como FPSOs (unidades flutuantes de produção, armazenamento e transferência), e possui uma alta necessidade de embarcações de suporte para essas plataformas.
Nos dois mandatos anteriores do presidente Lula, a Petrobras direcionava suas encomendas para estaleiros nacionais, como parte de um programa que levou à construção de grandes estaleiros como o EAS, em Pernambuco, e o Enseada, na Bahia.
No entanto, a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato suspendeu essas encomendas, levando grande parte da indústria à recuperação judicial. Desde 2016, segundo Magda, a Petrobras não fazia novos pedidos a estaleiros brasileiros.
Após o retorno do governo Lula, a Petrobras retomou o apoio à indústria naval, lançando um plano para encomendar 25 navios petroleiros e 44 embarcações de apoio a plataformas marítimas. Já contratou quatro navios junto a um consórcio formado pelo ERG e pelo Mac Laren, e atualmente está realizando licitação para mais oito.