LUANA LISBOA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um estudo divulgado nesta quarta-feira (29) na revista científica Jama Network Open revela que adultos com transtornos mentais graves têm maior chance de apresentar sequelas após a Covid, depois da fase inicial da doença.
No total, 1.625.857 pessoas infectadas pela Covid participaram da pesquisa, sendo que 258.523 (15,9%) tinham transtornos sérios como esquizofrenia, transtorno bipolar severo e depressão recorrente. Dessas pessoas, 403.641 (24,8%) desenvolveram sequelas após a fase aguda.
Sequelas são sintomas que continuam, voltam ou surgem novos efeitos na saúde após quatro semanas ou mais da infecção inicial pelo coronavírus. Esses sintomas podem ser problemas de memória, dificuldade para respirar, cansaço, ansiedade ou problemas de coagulação.
A pesquisa, realizada nos Estados Unidos, usou dados de registros médicos eletrônicos entre março de 2020 e abril de 2023, acompanhando os pacientes por até 180 dias. Participaram adultos com 21 anos ou mais com confirmação laboratorial de Covid, diagnóstico ou prescrição médica.
Os dados mostram que pessoas com transtornos mentais têm uma chance 10% maior de apresentar sequelas da Covid, mesmo após considerar fatores como idade, sexo, outras doenças e gravidade da infecção.
Além disso, idosos, pessoas negras não hispânicas ou hispânicas, indivíduos com mais doenças crônicas e aqueles com infecção inicial mais grave também correm mais risco de sequelas.
O infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor do Departamento de Infectologia da Unesp, afirma que o estudo confirma o que os profissionais de saúde já suspeitavam desde o início da pandemia.
Ele esclarece que a Covid longa não é só um problema respiratório, mas que envolve sistemas imunológicos e neurológicos, afetando mais quem já tem vulnerabilidade mental e social.
Barbosa explica que pessoas com transtornos psiquiátricos tendem a ter inflamação maior no corpo, estresse constante e dificuldades para acessar cuidados médicos, aumentando o risco de sintomas persistentes.
O estresse crônico prejudica o sistema imunológico, liberando hormônios como cortisol e adrenalina, que dificultam a produção de células importantes para combater doenças.
Os pesquisadores apontam que o estudo inclui apenas pacientes que tiveram contato com serviços de saúde, deixando de fora quem se autodiagnosticou com Covid por testes caseiros.
Também limitam os resultados a necessidade de consulta médica 30 ou mais dias após a infecção, o que exclui casos de pessoas que morreram logo após a doença.
Barbosa destaca a importância de tratar pacientes com visão ampliada, indo além do combate à infecção inicial, envolvendo psiquiatras e equipes básicas de saúde para um cuidado completo.