Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) encontraram partículas de microplástico em todas as amostras de placenta e cordão umbilical analisadas em um estudo realizado em Maceió.
Este estudo, pioneiro na América Latina, foi publicado recentemente na revista da Academia Brasileira de Ciências. No total, foram coletadas 229 partículas de plástico em tecidos de dez mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo 110 encontradas nas placentas e 119 nos cordões umbilicais.
A análise indicou que oito das dez gestantes apresentaram maior quantidade de partículas no cordão umbilical do que na placenta, sugerindo que os microplásticos não apenas atravessam a barreira placentária, mas também se acumulam em estruturas diretamente ligadas ao feto.
Entendendo os microplásticos
Micro e nanoplásticos são fragmentos muito pequenos que se desprendem de objetos de plástico com o tempo, pelo uso, aquecimento, abrasão ou lavagem. Já foram detectados em alimentos, no ar, na água e até no corpo humano, inclusive em órgãos vitais e na placenta.
Testes em camundongos também encontraram essas partículas nos fetos, levantando preocupações sobre possíveis impactos ainda desconhecidos na saúde.
Resultados do estudo
A maioria dos microplásticos identificados foi de polietileno, comum em embalagens de alimentos, e poliamida, usada em tecidos sintéticos. As partículas alcançaram profundidades de até 120 micrômetros nas vilosidades da placenta, mostrando uma penetração significativa.
Além disso, foram encontrados microplásticos de poliestireno em tecido placentário saudável, envolvidos por filamentos de actina, o que indica um possível mecanismo ativo de internalização pelo corpo.
Não foram observados danos ou fissuras visíveis na barreira placentária, sugerindo que a passagem dos microplásticos ocorre sem romper a integridade da camada protetora do feto, o sinciciotrofoblasto.
Possíveis consequências para o desenvolvimento fetal
Alexandre Urban Borbely, líder da pesquisa, destaca que os microplásticos podem não apenas alcançar o feto, mas também alterar seu desenvolvimento. Em estudos laboratoriais, o grupo da UFAL demonstrou que partículas de poliestireno modificam o metabolismo da placenta e aumentam a produção de radicais livres.
“Publicamos um estudo com células e tecidos humanos mostrando que os plásticos de poliestireno passam com facilidade pela barreira placentária e causam alterações no metabolismo dessa placenta e na produção de radicais livres, o que também é um indício de que vai afetar o desenvolvimento do bebê”, afirmou Borbely em entrevista à Agência Brasil.
A próxima fase da pesquisa envolve a análise de mais cem gestações, buscando possíveis correlações entre a presença de microplásticos e complicações como parto prematuro ou baixo peso ao nascer. O estudo conta com o apoio da Finep e do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Fontes de contaminação
A origem das partículas é variada. Os pesquisadores destacam o consumo de água mineral em galões, que pode absorver plásticos com maior facilidade sob luz solar, além do consumo de frutos do mar, principalmente moluscos, como importantes vias de exposição.
“A maior parte dos estudos é feita em países desenvolvidos. Por isso, quisemos trazer a realidade da nossa população. Os plásticos são formados por polímeros diferentes que variam conforme o local”, conclui Borbely.