O presidente do Peru, José Jerí, declarou estado de emergência por um período de 30 dias na capital, Lima, para tentar conter o aumento da criminalidade e a violência nas ruas. A medida foi anunciada na terça-feira (21/10) e entrou em vigor à meia-noite, horário local (2h, horário de Brasília).
Esta decisão ocorre em um momento de crise política e social intensa, agravada pela morte do rapper Eduardo Ruiz Sanz, conhecido pelo nome artístico Trvko, durante protestos realizados na última quarta-feira (15/10). O artista foi atingido por um disparo de um policial, conforme reportagens locais, gerando comoção nacional e críticas ao governo de Jerí.
Com o estado de emergência, as autoridades poderão limitar direitos como liberdade de reunião e circulação, além de implementar operações conjuntas entre a polícia e as Forças Armadas. O objetivo é conter tanto a escalada da criminalidade quanto os protestos esperados nos próximos dias.
Confrontos e feridos nas manifestações
Os protestos, que reúnem em grande parte jovens da “Geração Z”, começaram de modo pacífico, mas terminaram em confronto com as forças de segurança. Manifestantes arremessaram coquetéis molotov, fogos de artifício e objetos contra a polícia, que reagiu com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Segundo o presidente, 55 policiais e 20 civis ficaram feridos, e dez manifestantes foram detidos. As manifestações ocorreram principalmente na Praça San Martín, no centro de Lima, e foram convocadas pelas redes sociais.
As reivindicações principais incluem ações para enfrentar a crescente violência, a saída do presidente interino, o fechamento do Congresso e a convocação de uma assembleia constituinte para elaborar uma nova Constituição.
Em suas redes sociais, José Jerí expressou pesar pela morte do rapper e afirmou esperar que as investigações sejam conduzidas com objetividade para esclarecer os fatos e responsabilidades.
Contexto político recente
Jerí assumiu a presidência há apenas seis dias, após o impeachment de Dina Boluarte, que foi destituída por incapacidade moral em votação unânime no Congresso. Ela enfrentava acusações de corrupção, incluindo um escândalo relacionado a relógios de luxo não declarados. O novo presidente, de 38 anos e ex-presidente do Congresso, integra o partido conservador Somos Peru e é o sétimo líder do país desde 2016, período marcado por instabilidade política.
No discurso de posse, ele afirmou que seu governo terá como prioridade a reconciliação nacional e o combate ao crime organizado, destacando que as maiores ameaças estão nas ruas, compostas por gangues criminosas.
Origem dos protestos
Os protestos que motivaram o estado de emergência começaram ainda no governo de Dina Boluarte, em setembro, após a aprovação de uma reforma no sistema de aposentadorias que tornou obrigatória a adesão a um provedor de pensões para todos os peruanos maiores de 18 anos. A medida foi fortemente criticada por trabalhadores e estudantes.
A insatisfação popular é reflexo também de uma crise de confiança nas instituições, causada por escândalos de corrupção, problemas econômicos e aumento da violência urbana.
As eleições gerais estão marcadas para abril de 2026, e Jerí afirmou que pretende passar o comando ao vencedor do pleito, reafirmando seu compromisso com a soberania e a manutenção da ordem constitucional.