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sábado, 27/12/2025

Perdas bilionárias do jogo online preocupam o Brasil

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Os jogos de azar e apostas na internet, muito conhecidos como bets, trazem prejuízos econômicos e sociais para o Brasil que chegam a R$ 38,8 bilhões por ano. Esses prejuízos incluem casos de suicídio, desemprego, gastos com saúde e afastamentos do trabalho.

Um estudo chamado A saúde dos brasileiros em jogo, divulgado recentemente, analisou como o crescimento das apostas online afeta a população brasileira.

Para termos ideia da dimensão dessa perda, R$ 38,8 bilhões corresponderiam a um aumento de 26% no orçamento do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida do ano passado, ou a um acréscimo de 23% no orçamento do Bolsa Família em 2024.

Essa pesquisa foi criada em conjunto por organizações focadas na saúde pública: o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), a Umane, e a Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental, que conta com quase 200 parlamentares no Congresso Nacional.

Perdas

Segundo os especialistas, 17,7 milhões de brasileiros fizeram apostas em apenas seis meses, sendo que cerca de 12,8 milhões estão em risco devido a esses hábitos.

Inspirados por um estudo britânico, os pesquisadores estimam que as perdas causadas pelos jogos de azar no Brasil incluem:

  • R$ 17 bilhões devido a suicídios adicionais
  • R$ 10,4 bilhões pela redução na qualidade de vida causada pela depressão
  • R$ 3 bilhões em tratamentos médicos para depressão
  • R$ 2,1 bilhões em seguro-desemprego
  • R$ 4,7 bilhões relacionados ao encarceramento por crimes
  • R$ 1,3 bilhão por causa da perda de moradia

A maior parte desses custos (78,8%, ou R$ 30,6 bilhões) está ligada a problemas de saúde.

“Estudos recentes mostram relação entre o vício em jogos e agravamento de doenças como ansiedade, depressão e risco de suicídio”, destaca o documento, que usou cálculos financeiros para medir a perda na qualidade e duração de vida.

Os pesquisadores alertam que o rápido crescimento das apostas pela internet, impulsionado pela tecnologia, falta de regras claras, muita propaganda e ausência de políticas públicas eficazes, já resulta em grandes prejuízos para as famílias, com aumento do endividamento, doenças mentais e sofrimento emocional.

Retorno insuficiente

O Banco Central informou que os brasileiros apostaram cerca de R$ 240 bilhões em 2024, e que beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões via Pix em apostas neste mesmo período.

As apostas foram legalizadas no Brasil em 2018, ganharam regras em 2023 e passaram a recolher mais impostos em 2025. Até setembro de 2024, a arrecadação chegou a R$ 6,8 bilhões, subindo para quase R$ 8 bilhões em outubro.

“Mesmo considerando a previsão anual de R$ 12 bilhões, a arrecadação não cobre o custo anual estimado de R$ 38,8 bilhões, o que é preocupante para o interesse público”, ressalta o estudo.

Atualmente, as apostas pagam 12% de imposto sobre a receita bruta. Um projeto no Senado propõe aumentar esse percentual para 24%. Além disso, os apostadores pagam 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos.

Os autores criticam que somente 1% do valor arrecadado vai para o Ministério da Saúde, com apenas R$ 33 milhões repassados até agosto, sem vínculo com os recursos para tratamento em saúde mental no SUS.

Redução de danos

Rebeca Freitas, diretora de Relações Institucionais do Ieps, acredita que sem regras claras, fiscalização rigorosa e responsabilidade das empresas, os riscos de endividamento e problemas de saúde mental aumentam, principalmente entre os mais vulneráveis.

Ela destaca que as apostas já fazem parte da vida de milhões, então é essencial proteger a população.

“A prática está sendo incentivada por interesses comerciais fortes, mesmo prejudicando a saúde do povo brasileiro”, afirmou à Agência Brasil.

CPI das Bets

O impacto das apostas foi tema de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado, que investigou efeitos nas famílias, suposta ligação com o crime e atores que promovem essas apostas.

Entretanto, o relatório final da CPI, que pedia o indiciamento de 16 pessoas, foi rejeitado pelos parlamentares, algo inédito na última década.

Sem impacto positivo

Na economia, a pesquisa diz que as apostas têm pouca importância na geração de empregos e renda, representando apenas 1.144 empregos formais.

Para cada R$ 291 gerados pelas empresas, apenas R$ 1 vira salário oficial.

“Cada trabalhador formal gera cerca de R$ 3 milhões por mês para as empresas, mas recebe só uma pequena fração (0,34%) desse valor”, afirmam os pesquisadores.

A pesquisa também aponta alta informalidade, com 84% dos trabalhadores do setor sem contribuição previdenciária em 2024, contrastando com 36% na média nacional segundo o IBGE.

Bets contra aumento de imposto

O Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR), fundado em 2023 e representante de 75% do mercado de apostas no país, é contra o aumento da tributação por temer que o mercado ilegal cresça.

No perfil do LinkedIn, a entidade alerta que a tributação alta pode prejudicar o setor legal, enfraquecer a competitividade e diminuir a arrecadação.

“A oferta legal limitada, causada por impostos altos, aumenta o risco de operadores migrarem para o mercado ilegal, afetando a competitividade e a arrecadação prevista”, afirma o IBJR.

Segundo o IBJR, mais da metade (51%) das apostas online no Brasil acontecem de forma clandestina.

Fonte: Agência Brasil.

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