Beirute e Tel-Aviv disputam fronteira marítima onde se encontra uma enorme reserva de petróleo e gás, que até hoje não foi explorada; enviado americano segue para região a fim de selar acordo
Há anos, Israel e o Líbano duelam sobre a fronteira marítima onde está localizada uma das maiores reservas de gás e petróleo do mundo. O depósito de hidrocarbonetos, no Mar Mediterrâneo, avaliado em centenas de bilhões de dólares, possui mais de 530 bilhões de metros cúbicos de gás natural — em toda a bacia, que chega até a Turquia e o Egito, há mais de 1,7 bilhão de barris de petróleo, segundo o serviço geológico americano. Em uma de suas partes mais ricas, entre Israel o Líbano, o local não foi explorado por conta de disputas geopolíticas e de fronteira.
Agora, esse cenário pode ganhar novos contornos. É esperada uma visita do enviado especial americano, Amos Hochstein, na região nos próximos dias. Coordenador de energia internacional da Casa Branca, Hochstein deverá levar uma proposta de acordo em relação à disputa de fronteira marítima entre Israel e o Líbano. O acordo poderá representar um alívio na escalada de tensões na região, depois do aumento de ameaças de ambos os lados e bombardeios de Israel na Faixa de Gaza, na Palestina. No Líbano, o Hezbollah, que prega o fim do estado israelense, também havia subido o tom em relação à disputa pela reserva de gás e petróleo no Mediterrâneo e ataques a palestinos.
A aproximação entre os dois países ocorre em um momento de uma crise econômica sem precedentes no Líbano: o PIB encolheu 10% em 2021 (em relação a 2019, a queda é de 58%, segundo o Fundo Monetário Internacional) e 80% da população se viu incluída na faixa de pobreza. A exploração da bacia de hidrocarbonetos poderia injetar mais de US$ 200 bilhões na economia libanesa ao longo dos anos, segundo especialistas.
Para fechar um acordo, o Líbano deve abrir mão de parte de uma das linhas da fronteira marítima que disputava. Em troca, ganharia uma faixa extra próximo à reserva de gás e petróleo Qana, tendo todos os direitos sobre ela.
Hochstein esteve em Israel no início do mês para conversas sobre as fronteiras marítimas. Na ocasião, o enviado americano também visitou o Líbano, onde se reuniu com a cúpula do governo. A visita serviu para apaziguar os ânimos em relação à exploração de uma reserva de hidrocarbonetos que se tornou objeto de conflito entre Beirute e Tel-Aviv após Israel enviar navios e equipamentos de prospecção para o local sem o aval das autoridades libanesas.