Apesar das sanções administrativas e da investigação judicial em andamento relacionada à comercialização de bonecas sexuais com aparência infantil, a gigante asiática do comércio eletrônico Shein abre nesta quarta-feira (5/11), em Paris, sua primeira loja física permanente globalmente. Em um símbolo da controvérsia, desde terça-feira (4/11) policiais patrulham a entrada da tradicional loja de departamentos BHV, local onde a empresa chinesa será instalada. O assunto foi destaque nas primeiras páginas dos jornais franceses Le Figaro e La Croix.
A imprensa francesa tem abordado a polêmica intensamente. O jornal conservador Le Figaro comenta que a França se vê impotente diante da “invasão chinesa”. A inauguração da loja no BHV, um centro comercial no coração de Paris, acontece em meio às acusações de venda de mercadorias de baixa qualidade e, muitas vezes, perigosas e ilegais. A Shein recebeu neste ano multas na França que somam € 191 milhões.
A Shein está sob mira de um projeto de lei francês contra a moda rápida, e desde segunda-feira é investigada pelo Ministério Público de Paris por disseminação de mensagens violentas, pornográficas ou contrárias à dignidade de menores.
A empresa será ouvida por uma comissão de informação na Assembleia Nacional. Apesar do cenário, o BHV mantém a parceria, planejada para impulsionar as vendas na tradicional loja parisiense, segundo o Le Figaro.
Segundo um editorial do mesmo jornal, a concorrência abrange todos os setores da indústria francesa, refletindo um clima de indiferença generalizada. Paris e Bruxelas enfrentam dificuldades para regulamentar o comércio online.
Já o La Croix destaca que as lojas físicas tradicionais buscam se adaptar frente à concorrência do comércio digital e dos shoppings. O jornal recorda que, em 1920, a França possuía 850 lojas de departamentos, número que caiu para apenas 80 atualmente.
Nos últimos 40 anos, mesmo com o aumento da quantidade de roupas adquiridas, o gasto dos franceses com produtos têxteis não cresceu. A Shein, apesar das controvérsias e de suas iniciativas ambientais controversas, continua atraindo consumidores franceses pelos preços acessíveis, enfatiza o jornal.
Reações de diversos setores da sociedade francesa já surgem. Doze marcas nacionais, denunciando concorrência desleal, anunciaram que deixarão o BHV. As Galerias Lafayette em regiões interiores da França, que também planejaram receber lojas da Shein, desistiram das parcerias, informa o Les Echos.
Le Parisien recorda que as críticas por parte de autoridades, associações e representantes do setor têxtil francês começaram assim que a inauguração da loja foi anunciada no começo de outubro. A quarta-feira promete ser movimentada no BHV com a abertura da loja da gigante da moda rápida, marcada para as 13h (9h, horário de Brasília).
A entrada da plataforma, fundada em 2012 na China e atualmente sediada em Singapura, evidencia as tensões quanto à regulamentação do comércio eletrônico. A inauguração do estabelecimento é vista como um movimento estratégico pelo BHV.
