Pesquisadores das universidades de Tulane e da Pensilvânia, nos Estados Unidos, descobriram como o Schistosoma mansoni, parasita que provoca a esquistossomose, consegue penetrar na pele sem causar dor ou coceira.
De acordo com o estudo divulgado no The Journal of Immunology em 7 de agosto, o parasita bloqueia os nervos que ativam o sistema imunológico para detectar invasores.
O estudo revelou que o verme desliga neurônios sensoriais ligados ao canal TRPV1, que controla a inflamação e a sensação de dor. Essa tática facilita que o parasita alcance órgãos internos, onde pode causar danos mais sérios.
Os cientistas explicam que entender as moléculas envolvidas nessa inibição pode abrir portas para novos analgésicos e cremes que evitem a entrada de parasitas na pele, especialmente durante contato com água doce.
Infecção silenciosa e comum
A esquistossomose é contraída pelo contato com água contaminada por larvas do parasita, comum em atividades como pesca ou uso de água não tratada. Ao invadir a pele, a infecção não gera reações imediatas de dor ou irritação, ao contrário de outros parasitas.
Para entender o processo, os pesquisadores realizaram testes com camundongos infectados, que apresentaram menor resposta a estímulos dolorosos. A inibição dos neurônios TRPV1+ causada pelo parasita diminuiu a inflamação e favoreceu sua disseminação.
Os autores sugerem que impedir essa supressão neuronal poderia reforçar a defesa da pele contra a infecção. Em experimentos com animais que tiveram os neurônios estimulados após a infecção, o parasita teve dificuldade para se espalhar.
O S. mansoni libera neuropeptídeos que se ligam às terminações nervosas, confundindo suas funções e reduzindo a percepção da dor. Compreender esse mecanismo pode contribuir para o desenvolvimento de tratamentos contra dores crônicas.
Para os pesquisadores, essa descoberta ressalta a necessidade de unir avanços científicos às políticas de saúde pública, especialmente em áreas onde a esquistossomose é comum e o saneamento básico é deficiente.
Sobre a esquistossomose
A esquistossomose, popularmente chamada de “barriga d’água”, pode causar complicações graves como aumento do fígado e baço, acúmulo de líquido no abdômen, hemorragias e pressão alta nos pulmões, podendo ser fatal.
No Brasil, a doença representa cerca de 21% das enfermidades tropicais negligenciadas, atingindo cerca de 24 mil pessoas ao ano. Em 2024, houve 175 mil internações relacionadas a doenças transmitidas pela água, segundo dados oficiais.