O presidente norte-americano, Donald Trump, aconselhou mulheres grávidas a evitarem o uso do paracetamol por um suposto risco de autismo em bebês. Contudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) refutou essa alegação em 23 de setembro, baseando-se em análises científicas sobre o tema.
Segundo o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, “alguns estudos observaram uma possível ligação entre o uso pré-natal de paracetamol e o autismo, mas as evidências ainda são inconclusivas”. Ele enfatizou que muitos estudos não confirmaram essa relação e pediu cautela antes de afirmar um vínculo direto entre o medicamento e o autismo.
O paracetamol, também chamado de acetaminofeno, é o remédio mais recomendado para aliviar dor e febre em gestantes, enquanto medicamentos como aspirina e ibuprofeno são geralmente contraindicados, especialmente no final da gravidez.
Donald Trump afirmou durante uma entrevista na Casa Branca que as grávidas devem evitar o paracetamol e referiu-se a teorias relacionadas à sua ausência em Cuba e à suposta baixa ocorrência de autismo no país, além de citar a comunidade amish, conhecida por rejeitar tecnologias modernas, como exemplo de baixo índice da condição.
O secretário de Saúde dos EUA, Robert Kennedy Jr, conhecido por suas posições antivacinas, também participou da coletiva na qual essas declarações foram feitas. No passado, ele já associou vacinas ao autismo sem apresentar evidências científicas.
O autismo é um transtorno complexo com causas ainda em estudo. O governo dos EUA tem buscado acelerar a pesquisa para entender melhor suas origens e aprovou o uso de leucovorina para tratar alguns sintomas, como dificuldades na linguagem. Apesar do aumento dos casos, especialistas ressaltam que isso pode refletir avanços nos métodos diagnósticos e não necessariamente uma epidemia real.
Em 2021, um manifesto assinado por cerca de cem pesquisadores recomendou evitar o paracetamol durante a gestação, salvo orientação médica, citando dados que indicam possíveis efeitos no desenvolvimento fetal. Um estudo dinamarquês de 2015 sugeriu um aumento de 50% no risco de autismo em crianças cujas mães usaram o medicamento durante a gravidez, enquanto uma revisão de 2025 compilou evidências para essa hipótese.
No entanto, muitos cientistas apontam limitações metodológicas nesses estudos e sugerem que os fatores que levam ao uso do paracetamol podem ser os verdadeiros afetores do desenvolvimento do autismo.
Uma ampla pesquisa sueca recente acompanhou 2,48 milhões de crianças e não encontrou relação direta de causa e efeito entre o paracetamol e o autismo, destacando que fatores genéticos e ambientais desempenham papel mais significativo nessa condição.
O uso do paracetamol durante a gravidez é considerado seguro quando administrado na menor dose eficaz e pelo menor tempo possível, segundo a Agência Europeia de Medicamentos e outros órgãos de saúde.
Tarik Jasarevic enfatizou a importância de continuar investigando as causas do autismo para melhor compreensão e apoio às pessoas com esse transtorno, que afeta aproximadamente 62 milhões de pessoas em todo o mundo.