Ex-presidente conta que convenceu Bolsonaro a assinar o manifesto com o argumento de que todos ganhariam com o gesto
Responsável por construir boa parte do texto pelo qual o presidente Jair Bolsonaro sinalizou com o cessar-fogo aos demais Poderes da República, o ex-presidente Michel Temer acredita que não há no horizonte o risco de uma nova escalada na crise institucional. Ele, porém, não bota a mão no fogo pela nova postura adotada pelo atual titular do Palácio do Planalto.
— Vi tanto entusiasmo nele (Bolsonaro), nas pessoas que se manifestaram e nas pessoas do governo, que eu não vejo risco (de nova tensão), mas evidentemente não posso garantir o que vai acontecer lá na frente. Mas não creio (em recuo), é um documento escrito, não é uma fala verbal — justificou Temer em entrevista ao GLOBO.
Ele conta que convenceu Bolsonaro a assinar o manifesto com o argumento de que todos ganhariam com o gesto.
— Fiz uma conversa inicial com ele, antes de apresentar o documento, mostrando que era importante para o país. Que ele, como presidente da República, deveria também pregar uma certa pacificação porque seria útil pra ele, para o país e útil para o governo. E ele logo se convenceu, não teve dúvida em relação a isso — contou o ex-presidente ao desembarcar em São Paulo, depois da reunião em Brasília.
Segundo o ex-presidente, desde a véspera dos atos 7 de Setembro, quando Bolsonaro fez ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) ele passou a ser receber apelos para que intercedesse na tentativa de amainar o conflito do Executivo com Judiciário e Legislativo
— De segunda-feira para cá, muitas pessoas tinham me procurado dizendo que, como ex-presidente, uma voz moderada, tinha entrar nisso para ajudar a pacificar as coisas. E eu resolvi entrar — disse.
Os atos do Dia da Independência, organizados pelos apoiadores do presidente, tiveram como principal alvo o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquéritos em que Bolsonaro figura como investigado. Em seus discursos, o próprio Bolsonaro classificou o magistrado como “canalha” e disse que não iria mais cumprir decisões judiciais proferidas por ele.