Papa Leão XIV lançou na quinta-feira (9/10) sua primeira exortação apostólica, intitulada “Dilexi te” (Eu te amei, em latim), um texto de 49 páginas focado no amor aos pobres. O documento contém duras críticas à desigualdade social, à adoração da riqueza e à falta de sensibilidade diante do sofrimento dos mais vulneráveis, destacando que a pobreza ainda representa um grande desafio ético, político e espiritual para a humanidade.
O texto ressalta que o compromisso com os pobres deve estar acompanhado por uma transformação cultural e mental. Aponta que a falsa ideia de felicidade que vem de uma vida confortável leva muitos a valorizar apenas a acumulação de bens materiais e o sucesso social a qualquer custo, inclusive explorando outros e aproveitando sistemas injustos e privilegiados para os mais poderosos.
Assinada em 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis — figura que inspirou o nome do papa anterior, Papa Francisco, e símbolo da simplicidade e da defesa dos pobres — a exortação reforça a intenção do novo pontífice de manter viva a mensagem de solidariedade e justiça social.
Vários Rostos da Pobreza
No documento, dividido em 121 pontos, Leão XIV destaca que a pobreza é um clamor que desafia a vida, as sociedades e a Igreja. Afirma que a pobreza tem várias dimensões — material, social, moral, espiritual e cultural — e que é agravada por estruturas injustas.
Ele critica sociedades que mantêm modos de vida baseados em grandes desigualdades e lamenta que, mesmo com esforços internacionais, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU, a erradicação da pobreza ainda esteja longe de ser atingida.
Leão XIV também alerta contra a falsa noção de felicidade ligada a uma vida confortável, que estimula a busca contínua por riqueza e prestígio social, frequentemente à custa da exploração alheia. O papa observa que algumas elites vivem em bolhas de luxo, distantes da realidade da maioria das pessoas, e que essa mentalidade promove uma cultura de descarte, que tolera a fome e a pobreza de milhões.
Ele lembra a imagem impactante de uma criança síria falecida na praia do Mediterrâneo, um símbolo do sofrimento que, embora chocante, perde força diante de tragédias repetidas.
Dilexi te
A exortação reafirma temas já presentes no pontificado de Francisco, como a crítica à “ditadura de uma economia que mata” e à “tirania invisível dos mercados financeiros”. Também aborda a luta contra a escravidão, a proteção das mulheres vítimas de exclusão e violência, o direito à educação, o apoio aos migrantes e a promoção da justiça social.