Países árabes estão interessados em importar mais produtos brasileiros, especialmente do setor agrícola, como uma opção diante das altas tarifas aplicadas pelos Estados Unidos. Um estudo da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira analisou os principais produtos afetados pela taxa de 50% aplicada recentemente pelos EUA sobre mercadorias brasileiras. A pesquisa destacou os volumes de importação desses produtos pelos países árabes, os principais importadores da região e os mercados com potencial para receber essas exportações.
O estudo identificou 13 produtos destacados nas exportações brasileiras para os EUA nos últimos cinco anos, sugerindo que eles poderiam ser direcionados ou ter suas vendas ampliadas para os países árabes. Para cada produto, a Câmara recomendou três países da região com maior potencial de importação.
Um dos produtos com maior potencial é o café verde. Em 2024, o Brasil exportou US$ 513,83 milhões em café não torrado para os países árabes, comparado a US$ 1,896 bilhão vendidos aos EUA. A Câmara prevê crescimento nas vendas para Arábia Saudita, Kuwait e Argélia. Na Arábia Saudita, por exemplo, dos US$ 400 milhões em importações de café em 2024, apenas US$ 49,12 milhões vieram do Brasil, indicando espaço para aumento da participação brasileira.
Quanto à carne bovina, Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita apresentam oportunidades para aumentar as compras brasileiras. No Egito, de US$ 927,12 milhões importados em 2024, apenas US$ 273,07 milhões são de carne brasileira. No último ano, o Brasil exportou US$ 1,211 bilhão de carne bovina aos países árabes, valor maior que os US$ 885 milhões exportados aos EUA.
Além disso, há produtos exportados pelo Brasil para os EUA que ainda têm espaço para entrar no mercado árabe, como produtos semimanufaturados de ferro ou aço e madeira de coníferas. Equipamentos pesados como bulldozers e carregadoras têm alta importação nos países árabes, contudo, as exportações brasileiras nesses itens ainda são pequenas, indicando potencial de crescimento.
Por exemplo, o café não torrado pode entrar nos países árabes sem tarifas, enquanto os EUA cobram 50%. Carne bovina congelada tem tarifas que variam de zero a 6% na região árabe, em contraste com 50% nos EUA. O açúcar enfrenta taxas de zero a 20% no mercado árabe, ante 50% nos EUA. Produtos de ferro e aço têm tarifas de até 12% nos países árabes, contra 50% nos EUA. Petróleo refinado, outro produto importante, tem cobrança de 5% na região árabe, frente a 50% no mercado americano.
A Câmara destaca dois objetivos principais: minimizar os impactos das tarifas elevadas dos EUA e fortalecer a parceria comercial entre Brasil e países árabes. A análise da Câmara cruzou os 20 principais produtos exportados aos EUA, os destinos de consumo no mundo árabe e as tarifas aplicadas, focando nos produtos com tarifa cheia de 50% e sem exceções.
Segundo a Câmara, há uma demanda crescente de países árabes por produtos brasileiros com tarifas reduzidas, que variam de zero a 30%. A combinação da escalada tarifária nos EUA cria oportunidades para redirecionar e aumentar o comércio brasileiro com a região. Mohamad Mourad, secretário-geral da Câmara, aponta que o crescimento populacional e econômico da região, aliado à crescente população jovem, torna o Brasil um parceiro estratégico para a segurança alimentar árabe.
Não há estimativa precisa do volume que pode ser redirecionado, mas parte das exportações destinadas aos EUA pode ser direcionada aos países árabes ainda este ano, segundo Mourad. Ele destaca que produtos como carne bovina e café, com potencial de rápida absorção, podem gerar resultados rápidos, desde que o setor produtivo e as empresas sejam proativos.
Histórico
Em 2024, o Brasil alcançou recorde de US$ 23,68 bilhões em exportações para os países árabes, com superávit de US$ 13,50 bilhões. Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita são os maiores importadores brasileiros na região. Espera-se estabilidade ou crescimento leve nas exportações brasileiras à Liga Árabe.
Os produtos do agronegócio dominam a pauta comercial, representando 76% dos embarques. Açúcar, frango, minério de ferro, milho e carne bovina estão entre os principais itens. O Brasil é o maior fornecedor de gado, carnes diversas, milho, soja, amendoim, açúcar, celulose, ferro gusa e outros produtos essenciais ao mercado árabe.
A Câmara enfatiza a complementaridade entre as pautas comerciais do Brasil e dos países árabes e a vantagem nas tarifas. O Brasil importa petróleo e fertilizantes do mercado árabe e exporta commodities agrícolas e alimentos. Mourad destaca que o Brasil é visto como fornecedor confiável, competitivo em preço e qualidade, sendo a segurança alimentar uma preocupação central para os países árabes. Ele ressalta ainda que o custo do frete não representa um obstáculo significativo apesar de desafios logísticos.
Além dos aspectos comerciais, a Câmara planeja fortalecer as relações históricas antigas entre Brasil e países árabes, com foco na cooperação bilateral para expandir a presença brasileira em diversos setores.
Entre os países que merecem atenção especial para expandir o comércio com o Brasil estão Egito, Argélia, Iraque e Líbia. O Egito, com acordo comercial vigente com o Mercosul, é um parceiro importante com facilidades para exportação. Líbia e Iraque possuem economias ligadas ao petróleo e mostram capacidade de compra. A Argélia, com mais de 40 milhões de habitantes e alta tarifa de importação, demanda negociações para abrir o mercado.
Plano de trabalho
A Câmara propõe ao governo brasileiro um conjunto de ações agrupadas em três eixos: sensibilização, diversificação comercial e facilitação.
Esse plano envolve cooperação entre a Câmara Árabe, empresas brasileiras e governo para maximizar a realocação das exportações e explorar áreas promissoras. Ações incluem promoção de produtos com vantagem tarifária, apoio à adaptação das empresas às exigências locais, como certificação halal, e fortalecimento de acordos comerciais e diplomáticos.
Medidas práticas sugeridas são facilitação de vistos para empresários brasileiros e árabes em países estratégicos como Arábia Saudita, Argélia, Catar e Kuwait, organização de missões comerciais e atração de investimentos.
A Câmara destaca a importância de o Mercosul avançar nas negociações de acordos de livre comércio com países árabes. Atualmente, tratativas estão em andamento com Tunísia, Marrocos, Jordânia, Líbano e o Conselho de Cooperação do Golfo. O acordo entre Egito e Mercosul, vigente desde 2010, já demonstra resultados, com quase o dobro nas exportações brasileiras ao Egito. As negociações mais avançadas ocorrem com os Emirados Árabes Unidos.
Mourad ressalta que tanto o Brasil quanto os países árabes devem aproveitar o momento positivo nas relações políticas e comerciais. Ele salienta a competência do governo brasileiro em lidar com a região, reconhecendo sua importância econômica e potencial de consumo.