Em um terreiro móvel onde velas, cantos e rezas prometiam cura e conforto, mulheres buscavam alívio para diversos tipos de sofrimentos, desde questões psicológicas até conflitos familiares. Contudo, ao invés de proteção, ao menos seis mulheres sofreram violência, manipulação e terror.
Renato Hudson Silva Alves, um pai de santo preso preventivamente pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) em Taguatinga Sul, usava o pretexto de “purificação” para praticar crimes sexuais contra suas seguidoras. A prisão aconteceu na última sexta-feira (8/8).
Ele liderava um espaço em que a figura do pai de santo era simultaneamente conselheiro, juiz e porta-voz dos orixás. Essa autoridade foi explorada para instaurar um padrão de abusos. Durante dois anos, uma das mulheres foi estuprada, manipulada e mutilada com navalhas durante rituais que simulavam uma “cura espiritual” para transtorno bipolar.
Nos primeiros contatos, o religioso alegava que a mulher estava sob ataque de “energias externas” e que possuía uma “pomba gira” carregada de “energia sexual”, afirmando que ela deveria trabalhar essa energia para melhorar seus problemas psicológicos. Os abusos continuaram por todo o período entre janeiro de 2022 e novembro de 2024, até que a vítima conseguiu escapar desse ciclo de violência.
Segundo as vítimas, as conversas com o pai de santo ocorriam sempre a sós e ele orientava que não deveriam contar a ninguém, alegando que terceiros não compreenderiam a situação. Em um episódio em que a vítima se sentia mal, o líder do terreiro disse que poderia ajudá-la sexualmente, afirmando que isso a deixaria mais revigorada física e espiritualmente.
O pai de santo recomendou que ela depilasse todo o corpo para uma suposta purificação. Em seguida, levou a mulher a uma sala isolada e a estuprou. A vítima relatou sentir nojo, mas também medo de desobedecer à autoridade máxima da casa e à espiritualidade.
Ele ainda a orientou a suspender os medicamentos psiquiátricos para seu transtorno bipolar, insistindo que o terreiro era a única opção correta, desmerecendo tratamentos externos. Os abusos sexuais se repetiram diversas vezes, sem o uso de preservativos, incluindo penetrações anais que causaram fissuras no corpo da mulher.
A Operação “Sórdida Oblatio”, conduzida pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher I (Deam I), investigou também a frequente mudança de endereço do terreiro, estratégia utilizada para dificultar a ação policial e a localização das vítimas. Essa circunstância motivou o pedido de prisão preventiva, autorizado pelo Poder Judiciário.
A Polícia Civil continua investigando e não descarta que mais vítimas possam surgir. O nome da operação, que em latim significa “oferta impura”, faz referência direta à manipulação da fé e da espiritualidade como instrumentos de exploração e abuso.