JAIRO MARQUES
FOLHAPRESS
Dois pacientes que estavam com lesão total na medula, sem conseguir mover ou sentir nada da cintura para baixo, começaram a recuperar algumas sensações e fazer pequenos movimentos após receberem injeções de polilaminina. O tratamento foi autorizado pela justiça e está sendo acompanhado por uma equipe liderada pela bióloga Tatiana Coelho de Sampaio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A polilaminina é uma substância extraída da placenta humana que mostrou, em testes científicos, capacidade de ajudar na recuperação da medula espinhal em pessoas com lesões graves, como paraplegia e tetraplegia. A pesquisa foi autorizada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e testada inicialmente em animais e alguns voluntários, incluindo o caso de Bruno Drummond de Freitas, que ficou tetraplégico após um acidente. Ele recebeu o tratamento pouco tempo depois do acidente, e após cinco meses de fisioterapia recuperou o movimento e voltou a andar.
O processo para que a polilaminina possa ser testada em um grupo maior de pessoas depende de autorização da Anvisa, que ainda não aprovou a fase clínica do estudo. Entretanto, a agência tem permitido o uso da substância em alguns casos autorizados pela justiça.
Um dos pacientes, Luiz Fernando Mozer, de 37 anos, sofreu um acidente de motocross e teve uma lesão na medula. Após receber o tratamento, ele mostrou sinais de sentir toque nas pernas em menos de dois dias e conseguiu contrair músculos da coxa e da região anal, ampliando a sensibilidade.
O segundo paciente, um homem de 35 anos que ficou paraplégico após uma queda de moto, também recebeu a polilaminina em um hospital do Rio de Janeiro. Após o tratamento, ele conseguiu realizar um leve movimento no pé e sentiu sensibilidade em partes das pernas.
O neurocirurgião Bruno Alexandre Côrtes, responsável pelos procedimentos, afirmou que os pacientes não tinham chances de recuperar movimentos sob condições normais. Ele acredita que a polilaminina é a única explicação para essa recuperação.
A equipe de pesquisa destaca que ainda é necessário fazer estudos clínicos rigorosos para garantir a segurança e eficácia da polilaminina, protegendo assim os pacientes e evitando que usos não controlados ocorram apenas por decisão judicial.
A Anvisa informou que está avaliando cuidadosamente as informações apresentadas pelo laboratório responsável pelo medicamento, que é o laboratório Cristália, em parceria com a UFRJ.
Especialistas recomendam que toda recuperação após lesão na medula deve ser cuidadosamente analisada para entender qual parte se deve ao tratamento e qual parte pode ser resultado de cuidados médicos ou regeneração natural. Além disso, o retorno de sensações e movimentos é raro em lesões completas, pois a medula interrompida normalmente impede a passagem dos estímulos nervosos.
O uso da polilaminina tem sido restrito a casos recentes e graves, registrados em até 72 horas após a lesão. Até o momento, quatro decisões judiciais permitiram a aplicação da substância em três pacientes, incluindo uma mulher de 35 anos que recentemente sofreu um acidente de carro e ainda está em fase de avaliação.
A recuperação completa depende também de reabilitação intensiva e personalizada, considerada fundamental para estimular o retorno neurológico e documentar os resultados positivos. Atualmente, os custos do tratamento são divididos entre os voluntários, o setor público e o laboratório Cristália.

