Apesar de a pandemia da covid-19 ainda não dar trégua no país, e da forte recessão na economia, investidores se animam com sinais positivos no exterior, como a surpreendente criação de empregos nos Estados Unidos em maio. Bolsa tem sexto dia de alta
Com indicadores otimistas no exterior e boas expectativas do mercado quanto à retomada da atividade econômica após a pandemia do novo coronavírus, o dólar fechou, ontem, abaixo de R$ 5, pela primeira vez nos últimos dois meses. A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 4,99, queda de 2,73% em relação à sessão anterior. Também refletindo o bom humor dos investidores. a Bolsa de Valores de São Paulo ( B3), fechou com ganho de 0,86%, aos 94.637,06 pontos.
A última vez em que o dólar foi negociado abaixo de R$ 5 foi em 26 de março, também a R$ 4,99. Em 13 de março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a pandemia de covid-19, a moeda era negociada a R$ 4,81. Em maio, a divisa chegou a ser negociada a R$ 5,97, situação que levou o Banco Central a fazer diversas interferências no mercado cambial para segurar a alta.
A situação começa a mudar agora, com a recuperação gradual em países que já atingiram a pior fase do contágio da população pelo novo coronavírus. Mas a criação de 2,5 milhões de vagas de trabalho nos Estados Unidos em maio, no meio da pandemia, surpreendeu o mercado e gerou um clima de otimismo geral. Dados divulgados ontem pelo Departamento de Trabalho dos EUA mostram que a taxa de desemprego no país caiu de 14,7% para 13,3%, contrariando a expectativa de fechamento de mais 8 milhões de postos. Pelas projeções do mercado, o índice chegaria a 19,7%.
Embora ainda não seja possível avaliar a reabertura econômica no Brasil, que apresenta números crescentes de casos de covid-19, economistas apostam que o movimento será positivo. “A expectativa é de melhora, mas a situação aqui é mais problemática do que em outros países, porque estamos começando a abrir a economia com curva ainda alta de novos casos, em ascensão e batendo recordes”, ressaltou o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira. Os dados de conjuntura ainda são “fracos”, observa, mas “já sinalizam que estamos atravessando o fundo do poço”.
A abertura do comércio no exterior tem sido bem sucedida, sem relatos de uma segunda onda de contágio nos países, o que cria uma conotação positiva. Os sinais econômicos internos também geram algum otimismo. Nos últimos dias, o Ministério da Economia prometeu estender por mais dois meses o pagamento do auxílio emergencial, e o Banco Central comprometeu-se a criar novas medidas para socorrer empresas. Além disso, segundo Bandeira, “a situação política tem gerado muita incerteza, mas, nesta semana, deu uma trégua”.
Investidores estrangeiros começam a voltar ao mercado de ações brasileiro, apesar das crises políticas criadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset, avalia que “o Brasil entrou na moda”, com a retomada de captações externas pelo Tesouro. “O risco- país está em queda. A expectativa de retomada da atividade, com o alívio da quarentena, está arrefecendo o medo de uma segunda onda de covid-19”, acredita. O risco-país, que estava em 225 pontos na quinta-feira, caiu aos 202 pontos no final da tarde de ontem, de acordo com os Credit Default Swap (CDS), contratos financeiros de proteção contra riscos, que servem de medida sobre o índice.
O conjunto de fatores melhora as expectativas do mercado financeiro, que, nas últimas semanas, previa que o dólar ficaria acima de R$ 6 em alguns dias. A moeda em cotação mais baixa dá fôlego às empresas endividadas no exterior, que precisam arcar com juros em dólar. O Ibovespa teve a sexta alta seguida ontem, o que não acontecia desde outubro de 2019. Fechou em 94.637 pontos, depois de bater em 97.355 na máxima do dia.