O comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo, Fernando Lottenberg, declarou nesta sexta-feira (25/7) que a decisão do Brasil de sair da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), da qual era membro observador desde 2021, representa um erro em meio à tensão diplomática com Israel.
Segundo Lottenberg, a definição de antissemitismo adotada pela IHRA é uma ferramenta importante que, embora não tenha força legal vinculante, é utilizada por mais de 45 países e 2.000 instituições globalmente para identificar, informar e combater o antissemitismo.
A medida tomada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocorre em um contexto de crescente tensão diplomática entre Brasil e Israel, iniciada com o conflito do país contra o Hamas, que causou destruição e fome na Faixa de Gaza.
Tensão diplomática entre Brasil e Israel
Desde o início do mandato de Lula, as relações entre Brasil e Israel têm sido marcadas por atritos. Israel acusa o governo brasileiro de adotar posturas favoráveis ao Hamas, enquanto Lula critica as ações israelenses em Gaza, onde mais de 50 mil pessoas já perderam a vida.
O ponto crítico da crise ocorreu em fevereiro de 2024, quando Lula comparou os ataques de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. Após a repercussão negativa, o presidente foi declarado persona non grata em Israel e, em retaliação, retirou o embaixador brasileiro de Tel Aviv, reduzindo o grau de relacionamento diplomático entre os países.
Israel teme que o Brasil permaneça sem embaixador no país, pois o governo ainda não aprovou a nomeação de Gali Dagan para a missão em Brasília.
Em resposta à crítica brasileira ao apoio à ação judicial da África do Sul, que acusa Israel de genocídio em Gaza, o Ministério das Relações Exteriores de Israel afirmou que a saída do Brasil da IHRA, organização criada nos anos 1990 para combater o antissemitismo, também é uma consequência desse contexto.
Lottenberg ressalta que o governo brasileiro pode manifestar críticas às atitudes de Israel na Faixa de Gaza e que divergências diplomáticas são compreensíveis, mas destaca que esses fatos não devem interferir no trabalho da IHRA, que é de extrema importância.
Ele lembra que o Brasil abriga a segunda maior comunidade judaica da América Latina e que a participação na IHRA demonstra compromisso com a cultura da paz e a promoção da educação sobre o Holocausto por meio da pesquisa e da memória, fundamentos essenciais para a criação da aliança intergovernamental em 1998.
Lottenberg também explica que a definição de antissemitismo é um dos pilares da IHRA.
Ação judicial contra Israel
Embora o governo brasileiro ainda não tenha anunciado oficialmente o apoio à ação da África do Sul que acusa Israel de genocídio, fontes diplomáticas israelenses confirmaram que o Ministério das Relações Exteriores já notificou a embaixada de Israel em Brasília sobre o assunto.
No dia 23/7, o Brasil deu mais um passo no distanciamento diplomático ao formalizar sua entrada no processo legal que tramita na Corte Internacional de Justiça (CIJ) contra Israel.
Iniciada em 2013 pela África do Sul, essa ação judicial acusa Israel de genocídio contra a população palestina na Faixa de Gaza.