O que uma 4ª onda de covid na Europa tem a dizer sobre futuro da pandemia
Por Marcelo Tokarski*
Os números da pandemia de covid-19 seguem bastante controlados no Brasil. A taxa de contágio medida pelo Imperial College, de Londres, está há quase 40 dias em 0,63. Quando abaixo de 1,0, é sinal de que a pandemia perde força. A média móvel de mortes ficou neste domingo em 337 óbitos por dia, uma redução de 23% na comparação com o indicador de duas semanas atrás.
Todo esse comportamento da pandemia tem basicamente uma explicação: a forte adesão dos brasileiros à vacinação. Chegamos a 71% da população vacinada com pelo menos a primeira dose, sendo 51,2% completamente imunizada com D1 e D2 ou com dose única. Proporcionalmente ao tamanho da população, somos o 16º país mais vacinado do mundo. Já ultrapassamos nações como Estados Unidos e Reino Unido.
Aos poucos, as pessoas vão retomando parte da normalidade em suas rotinas. As escolas estão funcionando em quase todo país, muitas empresas passaram a exigir a volta de seus colaboradores e várias cidades já liberaram até mesmo a presença de público em eventos como jogos de futebol, shows musicais e peças de teatro.
Para garantir que o contágio não volte a acelerar, é fundamental que as pessoas sigam utilizando máscaras e adotando cuidados básicos aprendidos nesse último um ano e meio, como o distanciamento social e o uso de álcool gel. E é justamente aí que mora o perigo. Muita gente tem abandonado o uso de máscaras, que de acordo com diversos estudos é uma das maneiras mais eficazes de se evitar a contaminação.
Alguns sinais vindos de outras regiões do mundo ligaram o alerta na última semana. Principalmente os sinais vindos da Europa, única região do mundo em que, atualmente, o volume de casos de covid-19 está em aceleração. E o continente que hoje registra o maior número de mortes pela doença. Autoridades de alguns países europeus, como a Bélgica, já falam abertamente sobre uma quarta onda da pandemia.
Além da Bélgica (73,2% de vacinados com duas doses ou dose única), países como Reino Unido (66,7%), Alemanha (65,6%) e Rússia (32,8%) estão vendo crescer novamente o contágio. Há registros de novas variantes, inclusive uma derivada da Delta, até aqui uma das mais agressivas já registradas. E as autoridades já voltaram a se preocupar com a alta na procura por hospitais.
Na Rússia, que ainda tem baixa cobertura vacinal se comparada a outros países, as autoridades decidiram, inclusive, por lockdowns para evitar uma piora na crise sanitária. Bélgica e Alemanha também avaliam endurecer novamente as regras de circulação.
Claro que cada contexto deve ser analisado individualmente, pois depende de diversas variáveis, como percentual de vacinados, tempo decorrido da imunização, presença de variantes do vírus, regras de convivência, entre outros. Os dados não devem causar alarde, mas servem de atenção para aqueles que acreditam que a pandemia está totalmente sob controle. Não está.
Proteção ainda é necessária
É sabido que mesmo os vacinados podem contrair a doença. A vacina protege sim, pois reduz em muito a chance de agravamento e internação, além de praticamente zerar o risco de morte. Mas como a vacina não é blindagem 100% contra o vírus e com o passar do tempo a imunidade acabar sendo reduzida, há sim o risco de novo recrudescimento da pandemia.
O que nos leva a atenção para um outro fator: o risco de uma pandemia dos não vacinados. No Brasil, três em cada dez pessoas (30%) não foram imunizadas sequer com a primeira dose. Pesquisas de opinião mostram que 90% dos brasileiros desejam se vacinar. Ou seja, na conta simples, é necessário buscar esses 20% que querem o imunizante, mas ainda não foram vacinados.
Provavelmente, são pessoas de baixa renda e baixa escolaridade, que enfrentam barreiras de acesso à campanha de imunização. Cabe às prefeituras, aos estados e ao governo federal buscar essas pessoas ativamente para que o Brasil atinja a quase universalidade da vacinação.
O exemplo a se mirar é o de Portugal, a nação mais vacinada do globo, com 87% das pessoas completamente imunizadas (com D1+D2 ou dose única). Não à toa, pelo menos por enquanto, Portugal segue razoavelmente imune à ameaça de uma nova onda de covid-19, apesar de um leve recrudescimento no número de casos nos últimos dias. E a vacinação certamente é a grande responsável por esse cenário.