Para os fãs de futebol, não é raro ouvir falar de uma lesão séria no joelho de algum jogador. Muitas vezes, essa lesão está associada ao ligamento cruzado anterior (LCA), uma estrutura crucial para a estabilidade do joelho. Quando rompido, esse ligamento pode afastar o atleta dos campos por vários meses.
A lista de jogadores brasileiros afetados por essa lesão inclui nomes importantes. Neymar, por exemplo, sofreu a ruptura do LCA em um jogo contra o Uruguai pelas Eliminatórias da Copa do Mundo em outubro de 2023. Em 2024, Pedro, atacante do Flamengo, teve a mesma lesão durante um treino da Seleção Brasileira. Mais recentemente, em julho, Ryan Francisco, jovem promessa do São Paulo, rompeu o ligamento durante uma atividade no CT.
Essa lesão geralmente acontece de forma súbita, sem contato direto com outros jogadores. No futebol, ocorre com frequência quando o atleta apoia um pé no chão e gira o tronco na direção oposta. Esse movimento exige muito do joelho e gera uma força de torção capaz de romper o ligamento.
O ortopedista Paulo Lobo, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), explica que o joelho é uma articulação naturalmente instável.
“Ele não tem um encaixe ósseo como o quadril ou tornozelo. Toda a sustentação depende de quatro ligamentos, além da cápsula, meniscos e tendões”, comenta. Dentre essas estruturas, o LCA é essencial para manter o joelho firme, especialmente em movimentos de rotação.
Conhecido como “o coração do atleta” devido à sua importância, o LCA mede entre 22 e 32 milímetros e conecta a tíbia ao fêmur, no centro do joelho. Apesar de pequeno, é vital para a estabilidade articular.
Lesões no LCA são mais frequentes em esportes que exigem mudanças rápidas de direção ou rotação do joelho, como futebol, handebol, basquete, ginástica artística e esqui. Atletas que desempenham funções que demandam deslocamentos repentinos estão mais expostos a esse tipo de lesão.
Quanto ao tipo de gramado ou às travas da chuteira, frequentemente apontados como vilões, João Grangeiro, presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE), afirma que não há evidências científicas de que o tipo de piso ou calçado aumente o risco de lesão.
Entretanto, há vários fatores que influenciam o risco de rompimento do LCA. Além do movimento de torção, há aspectos anatômicos, musculares, hormonais e ambientais que contribuem para a ocorrência da lesão.
Paulo Lobo destaca que pisos mais duros favorecem rupturas, e condições climáticas como dias muito secos ou quentes também podem aumentar a incidência, conforme estudos realizados na Austrália e na NFL. Outra questão importante é a anatomia do joelho: pessoas com espaço entre os côndilos do fêmur mais estreito têm maior risco. Isso explica, em parte, por que atletas do sexo feminino apresentam maior incidência do rompimento do LCA.
Atletas como a ginasta Rebeca Andrade e a tenista Luísa Stefani já sofreram essa lesão. A ginasta, por exemplo, precisou passar por três cirurgias antes de competir nos Jogos Olímpicos de 2024.
A preparação física é fundamental para prevenção. Segundo João Grangeiro, é essencial manter o equilíbrio muscular para conservar a estabilidade do joelho e reduzir o risco de lesão.
O aumento no número de diagnósticos recentes, segundo ele, não significa necessariamente um aumento nas lesões, mas uma maior capacidade de identificação precoce do problema.
Como prevenir a lesão
Para prevenção, muitos clubes adotam protocolos específicos que incluem fortalecimento muscular, controle neuromuscular e, no caso das mulheres, até o monitoramento do ciclo menstrual. A FIFA, por exemplo, desenvolveu o programa FIFA 11+ que reduziu em até 28% as lesões musculares e contribuiu para a prevenção das lesões do LCA.
A tecnologia também tem avançado na reabilitação, com equipamentos que auxiliam a monitorar a força muscular e a ajustar o retorno do atleta de forma individualizada.
“O corpo humano não é uma máquina. Cada atleta tem fatores hormonais, anatômicos e mentais que precisam ser levados em conta”, finaliza Paulo Lobo.